quarta-feira, 19 de setembro de 2018

Entrevista MX

O Brasil Rocker tem a honra de apresentar uma entrevista com os músicos Alexandre da Cunha e Alexandre "Dumbo", músicos da banda de Thrash Metal MX. Nessa entrevista, falam sobre toda a carreira do MX, inclusive o mais recente álbum, o "A Circus Called Brazil".


Sejam bem vindos ao Brasil Rocker. Saiba que é uma honra entrevistar um dos 
pilares do Thrash Metal nacional, que é o MX. Sintam-se à vontade!

Alexandre: Obrigado Mateus pela oportunidade, é uma honra poder participar!!!

De que maneira a música entrou em sua vida?

Alexandre: Desde criança a música sempre fez parte da minha vida, sempre decorava rapidamente jingles e músicas de comerciais de TV quando tinha meus 4, 5 anos de idade. Meu pai ouvia de tudo, MPB, sertanejo mas também ouvia Beatles e isso me despertou algo diferente, aos 10 anos de idade já conhecia as músicas dos principais álbuns dos garotos de Liverpool. 

O que te fez optar por tocar bateria?

Alexandre: Foi bem instintivo, quando moleque eu sempre juntava tudo que pudesse emitir algum som diferente , tampa de panela, panela, caixa de papelão, catraca de bicicleta, garrafas, etc . 
Eu nasci sabendo que tocaria bateria algum dia... (risos)



Quais os artistas e bandas que mais te influenciaram?


Alexandre: Beatles, Iron Maiden, Kiss, AC/DC, Deep Purple, Black Sabbath, Led, esses foram o começo de tudo. 

Em 1985, é formado o MX. Como foi no começo, em relação aos ensaios, composições, etc.?



Alexandre: Tudo bem precário, instrumentos simples, muita coisa improvisada, mas a vontade de tocar era gigantesca e fazíamos qualquer esforço do mundo para conseguir. A banda sempre procurou compor, tocávamos de tudo. Covers de bandas como AC/DC, Iron MaidenManowarSlayer, Metallica, Scorpions, mas já tínhamos nossas primeiras músicas, como Sigilo dos Deuses, Prece e Voz, Atlantida, entre outras... Cantadas em português inicialmente.

Como foi o show da gravação do split "Headthrashers Live"?

Alexandre: Foi um grande marco na história do metal, um dos primeiros registros ao vivo de bandas de metal do Brasil. Foi um evento no Teatro Municipal de Santo André com uma infra estrutura e equipamento até então jamais utilizado por nenhuma banda da região, foi fantástico, público alucinado, casa cheia, muita energia... Época de ouro. 

O entrosamento das bandas na cena era legal? Ou era cada um por si?

Alexandre: Dentro do possível sim , o MX nunca prejudicou ninguém na cena, e tínhamos sim bandas que éramos  bem ligados.



No início, a banda executava um som Death/Black Metal, e com o passar do tempo, foi migrando para o Thrash. O que fez a banda optar por essa mudança sonora?

Alexandre: Na verdade, se ouvir as primeiras músicas gravadas já era um Thrash Metal, porém as letras tinham um apelo um pouco mais bruto e algumas tinham influências mais do Death/Black, isso que acabou ficando marcado, mas sempre nos consideramos um banda Thrash. 

Em 1988, é lançado o álbum Simoniacal, um marco na história do Heavy Metal nacional. Como foi para vocês (ainda jovens, na época), entrarem em estúdio para lançar um álbum individual?

Alexandre: Ah... O Simoniacal... (risos), foi o álbum que fez com que a banda se firmasse na cena como uma das mais importantes do país, éramos moleques, sem estrutura adequada, sem produção porém tínhamos a capacidade de compor e isso foi o que pesou, as músicas ainda hoje são tocadas em nossos shows e de certa são exigidas pelo nosso público. Ganhamos premiações , vendagem elevada, foi um grande Debut.

Qual foi a repercussão de Simoniacal na época?

Alexandre: Vendagem incrível, um dos álbuns mais vendidos daquela época, elevou nosso Status para banda headliner em vários eventos, vários shows pelo país e fomos a segunda banda a pisar em Manaus para um show de Metal, histórico com cerca de 9.000 pagantes no show de lançamento. Abrimos também shows de bandas gringas que pisaram na América do Sul pela primeira vez, como Testament por exemplo.




Na época, você foi considerado um dos maiores bateristas do Heavy Metal no Brasil, por ser um baterista e vocalista, algo que valorizava a performance como baterista, dado a dificuldade de cantar e tocar as músicas rápidas e técnicas. Como foi esse reconhecimento para você?

Alexandre: Uma grande honra, o reconhecimento individual a meu ver não é tão importante como o patamar que a banda alcança ,mas faz parte. O estilo de tocar bateria com viradas variadas e o fato de cantar é uma característica não tão comum em bandas de metal e meus ídolos eram bons, aprendi alguma coisa... (risos).

Qual o motivo das músicas Fucking All the Angels e Destructor of Heads (da demo tape Fighting for the Bastards) não terem entrado em nenhum disco de estúdio da banda?


Alexandre: Essas músicas só entraram no álbum Headthrashers Live  junto com mais 3 bandas do ABC,  e depois na demo tape "Figthing for the Bastards" que antecedeu o Simoniacal...



Em 1989, é lançado o álbum "Mental Slavery", outro petardo do Thrash. Como foi o processo de gravação e composição desse álbum?

Alexandre: Esse álbum já foi um pouco melhor produzido, apesar de termos tido pouquíssimo tempo para gravar. Lembro de chegar em BH e ir para o estúdio e em 8 horas tivemos que montar a bateria, passar som e gravar, sem emendas, e não voltamos nenhuma música sequer! Em uma das faixas o pedal do bumbo direito se solta, e usei o esquerdo imediatamente e ficou uma lacuna que até hoje me incomoda... Talvez ninguém tenha reparado... (risos)
Esse sem falsa modéstia eu acho um dos melhores álbuns de Thrash Metal lançados no Brasil. 

Nesse álbum, tem uma música chamada "The Guf". O que é exatamente o "Guf"?

Alexandre: "The Guf" foi tirada do filme "A Sétima Profecia", e é o lugar da onde são enviadas as almas para as crianças que nascem... Só que esse lugar teria uma quantidade de almas finitas e a profecia dizia que quando o Guf estiver vazio o mundo sofreria vários desastres, etc... 



Após o show do Testament no Brasil em 1989, o guitarrista Décio Jr. sai da banda. O que ocasionou a saída dele?

Dumbo: Ele poderia falar melhor sobre isso, mas na época o que ele nos disse foi que queria se dedicar a sua vida particular, estudo, trabalho e casamento. 

Nos anos 90, o MX lançou 2 discos, o "Again" e "The Last File", álbuns bons, mas que não tiveram a devida distribuição (mesmo sendo bem aceitos pelos fãs e pela crítica).  Isso desanimou a banda nessa época? 

Dumbo: Gravamos o Again sem nenhuma preparação, bem como se fala: Na correria... Sem pensar muito na coisa toda... E acabamos que não tínhamos mais aquele pique pra correr atrás do que era necessário, simplesmente deixamos as coisas correrem conforme o fluxo normal, sem procurar por shows, ou promoções, enfim... Tudo que aconteceu naquela época (e não foi pouca coisa) aconteceu porque vieram nos procurar, só que isso uma hora acaba....e foi o que aconteceu!!! No Last File já não existia mais a banda, alias esse álbum deveria ter saído como um projeto paralelo meu e do Alexandre Cunha, pois o trabalho foi composto e gravado exclusivamente por nós dois, e a ideia era pra ser um último registro da banda mesmo...

Esses álbuns tiveram como guitarrista o C.M. (que tocou no Mutilator e Cova). Como foi o processo de integração desse guitarrista na banda?

Dumbo: O C.M. já era um velho amigo, nos conhecíamos a muito tempo, e ele estava voltando pra São Paulo na época, depois de ter ficado uns bons anos em BH, ai encaixou naturalmente!!! 


Em mais de 30 anos de carreira, vocês abriram shows para vários nomes importantes do Heavy/Thrash Metal, como Exodus, Testament
 e Iron Maiden. Qual é a sensação de abrir para bandas que os influenciaram, e são seus ídolos?

Dumbo: Na maioria das vezes é bem legal, destaque para o Exodus que são pessoas fantásticas e te tratam como iguais sem estrelismo... E tivemos a oportunidade de fazer 4 shows com eles com Paul Ballof e também tocamos em 2014. Antigamente chegamos a ter problemas com bandas tipo o Testament e outras que abrimos...aquela coisa de banda gringa achar que pode fazer qualquer coisa com a de abertura e tal... Eles só não contavam que nós não íamos deixar passar batido... (risos) Enfim... Tiveram que nos engolir... Mas deixa pra lá os detalhes... (risos)

Vocês tiveram uma parada nos 2000, e voltaram em 2012. O que ocasionou esse hiato do MX?

Dumbo: Justamente essa falta de profissionalismo e foco que tomou conta da banda ao passar dos anos depois do lançamento do Again... Foi miando e acabou... 



Em 2014, vocês lançaram o álbum Re-Lapse, com regravações de músicas da banda. De onde surgiu essa ideia?

Dumbo: Foram muitos anos longe da cena, resolvemos então mostrar ao público novo as músicas que o público antigo gostava tanto, só que com uma gravação mais decente. A ideia veio naturalmente e consideramos um ato de coragem regravar músicas que foram feitas quando tínhamos 16, 17 anos. É um ato de coragem e confiança. 

João Gordo faz vocal na música Fighting for the Bastards. Vocês são amigos da galera do Ratos de Porão? Porque vocês a regravaram em português?

Dumbo: Conhecemos o Jão e o Gordo desde os anos 80, tocamos juntos algumas vezes, chegamos a ensaiar no mesmo lugar... Enfim, pra nós foi uma honra ter o Gordo participando, e ficamos mais felizes ainda por ele ter adorado fazer. 



Em 2018, é lançado o "A Circus Called Brazil", sexto e mais recente álbum de estúdio da banda. Ele foi muito bem recebido pela crítica e pelos fãs. Vocês já tinham as músicas do álbum prontas, ou começou tudo do zero?

Dumbo: Tínhamos 3 musicas compostas que passaram por uma adaptação, o restante foi do zero. 

Como o próprio título já diz,"o circo chamado Brasil" está comandado por palhaços de todas as formas. O álbum foi composto com esse intuito, de criticar a atual situação decadente brasileira, ao melhor estilo do Thrash Metal?

Dumbo: As músicas e letras foram surgindo por etapas, só decidimos seguir com essa temática depois que a música que da nome ao álbum foi composta e ela foi a última, aí que chegamos nesse consenso. Criticar a situação decadente já é comum em nossas letras,agora ficou mais acentuada e descarada. 

"A Circus Called Brazil" foi lançado antes nas plataformas digitais do que em CD físico. Qual sua opinião sobre a obra do artista/banda ser lançado em plataforma digital, realmente ajuda de alguma maneira?

Dumbo: Acho que hoje o artista não tem escolha, se ele não lançar nas plataformas digitais certamente perderá uma parte do público que atualmente só escuta por estes meios. Eu particularmente acho que facilita e muito a divulgação do trabalho, e consequentemente  facilita o acesso aos ouvintes, esse é o futuro, é isso, não dá pra ir contra ou ficar reclamando, tem que se adaptar, hoje a fila anda rápido... E é assim....  



Nele há um cover de Motörhead, a Speedfreak. De quem veio a ideia de regravá-la? Essa regravação foi proposital em homenagem ao Lemmy? Qual a importância do Motörhead no som da banda?

Dumbo: Essa versão que fizemos faz parte de uma coletânea com várias bandas nacionais tocando músicas do Motörhead que saiu na Europa, como gostamos do resultado, foi incluída no álbum... Participamos também do tributo ao Black Sabbath, que já foi lançado e também do AC/DC que ainda não foi lançado. 
E sim, com certeza o Motörhead nos influenciou de alguma forma, tocávamos Ace of Spades com 15 anos de idade... (risos)

Em mais de 30 anos de carreira, o MX deixou sua marca no Heavy Metal nacional. Como é saber que a banda que você fundou há tanto tempo fez tanta coisa pelo Metal, influenciando até músicos gringos?

Dumbo: As vezes ficamos até surpresos pelos comentários ou por pessoas que encontramos, inclusive gringos, que chegam até nós e falam o quanto o MX foi importante para eles, é muito gratificante é uma sensação de dever cumprido. 



Mesmo após mais de 30 anos de banda, os shows ainda são poderosos! Como fazem para manter a forma física para essas performances viscerais?

Dumbo: Dentro do possível, cuidamos bem da saúde, ninguém no MX "chuta o balde" pra depois subir no palco, mesmo porque com nossa idade se fizermos isso, já era o show. Procuramos não beber antes dos shows e etc... Tudo pra poder estar vivo após a apresentação, principalmente o Alexandre (batera), pois o desgaste dele é muito maior que os outros integrantes, ele tem feito exercícios específicos para a resistência e mais ainda para a coluna, que acredite ou não já teve médico que disse que ele não teria condição de tocar bateria e em poucos anos, nem andar direito conseguiria... Mas o cara ta aí, com meio século e tocando bem mais do que quando tinha 20 e poucos anos... 

Dentre os álbuns que o MX já lançou, você define algum como seu favorito? Se sim, porque?

Dumbo: Circus Called Brazil... Pura Inspiração..,

Quais os planos para o futuro do MX?

Dumbo: No momento é sair fazendo shows da tour do novo álbum, depois.....quem sabe? (risos)

Foi uma honra entrevistar vocês! Desejo longa vida ao MX, e que a banda continue fazendo o bom trabalho que sempre fez em favor ao Heavy Metal! Passo a palavra para vocês, caso queiram deixar algum recado a seus fãs, e leitores do Blog...

Alexandre: Obrigado Mateus, é uma grande honra poder participar, gostaríamos de agradecer ao Brasil Rocker pela oportunidade e dizer aos nossos fãs que acessem nosso material nas plataformas digitais. "A Circus Called Brazil" está disponível também em CD físico lançado pela Shinigami Records, e em breve teremos lançamento Europeu também. 

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