segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

Entrevista Zhema Rodero

Hoje o Brasil Rocker tem a honra de trazer uma entrevista com Zhema Rodero guitarrista, compositor e fundador de um dos precursores do Metal extremo na América Latina, o Vulcano. Nessa entrevista, Zhema aborda sobre toda a carreira do Vulcano, desde seus primórdios até os dias atuais, em que estão prestes a embarcar em mais uma turnê europeia. Divirtam-se!


Zhema, é uma honra poder estar entrevistando um dos pioneiros do Metal extremo na América Latina. Obrigado por conceder essa entrevista!!

Zhema: Cara! Eu é quem agradeço esta oportunidade de levar um pouco das ideias por trás do VULCANO aos seus leitores.

O Vulcano foi sua primeira banda?

Zhema: Na verdade sim! Eu comecei com essa coisa de banda lá no final dos anos 70 e naquela época era muito difícil formar uma banda não somente pela falta de pessoas que tocavam algum instrumento como pela falta total de recursos. Porém não me preocupava com essa coisa de dar nome e então somente em 1980 eu coloquei o nome da banda que tinha naquela época de Astaroth que logo em seguida tornou-se VULCANO.

Em 1983, o Vulcano lança o primeiro registro da carreira, o compacto "Om Pushen Namah". Como foi para jovens headbangers lançar algo naquela época?


Zhema: Isso foi no final de 1982 e inicio de 1983. Naquela época o apogeu de uma banda de garagem era ter um disco gravado e eu sabia que era um objetivo muito distante, mas mesmo assim eu coloquei na minha mente que iria fazer aquilo. Eu era amigo, e ainda sou, do Oswaldo e Celso do Made in Brazil e então eu tinha eles como exemplo de profissionalismo. Um determinado dia conheci um rapaz que era cantor de música brega e esse cara me ensinou tudo que eu precisava saber para produzir e lançar um disco. Eu estava muito ansioso para isso e então nem esperei compor e ensaiar novas músicas, assim eu escolhi algumas que já me acompanhavam desde os anos 80. Não havia uma preocupação em mostrar um trabalho mais recente, mas sim lançar um disco. 


"Om Pushen Namah" é o único registro completo em português, após ele só seriam lançadas algumas faixas nessa idioma. Por que a banda optou pelo inglês?

Zhema: Eu sempre acreditei que o idioma mãe do Rock é o Inglês. A fonética da língua inglesa é totalmente apropriada para as divisões do Rock, Heavy Metal e até mesmo o Metal mais Extremo. Até deu certo com algumas músicas que aparecem no Live! De 1985 mas eu não ia conseguir manter o Português por muito tempo.

Inicialmente você tocava contrabaixo. O que fez você mudar para a guitarra?

Zhema: As mudanças que ocorriam na banda e como eu sou compositor, eu usava a guitarra para fazer isso. Então eu tinha que passar as músicas para os guitarristas e quando eles deixavam a banda eu tinha que fazer isso tudo novamente. Decidi que se eu permanecesse na guitarra seria melhor para todos. Foi assim que em 1987 o Zé Flavio saiu da banda e logo em seguida o Soto Jr. Também saiu, como eu era o único na nova banda que sabia tocar todas as músicas na guitarra, resolvi assumir de vez. No retorno do VULCANO após 14 anos hibernados e foi o Soto Jr. o responsável por essa volta, eu fiquei no contrabaixo novamente e acabou que eu gravei o baixo no “Tales from the Black Book”, mas logo em seguida voltei para a guitarra.


"Live" é o primeiro álbum completo do Vulcano, lançado em 1985. A proposta de lançar um álbum ao vivo antes de algo de estúdio é um tanto quanto ousada. De onde surgiu essa ideia?

Zhema: De uma necessidade de mostrar a Banda para o público de São Paulo. Na época a Capital era muito fechada e o VULCANO não conseguia fazer shows por lá, porém pelo interior do Estado tocávamos muito. Nós tínhamos um visual agressivo e de certa forma nossa música também era, nós tínhamos muita energia no palco e nossos shows eram para “headbangear”. Eu queria levar isso até a Capital e a única maneira que eu enxergava na época era gravar um álbum ao vivo. Hoje em dia não, seria um absurdo!

Comente sobre esse show que resultou no "Live".

Zhema: Fazer um show ao vivo em um ginásio de esportes era somente para corajosos e eu era! Pedi ajuda do Oswaldo Vecchione e ele me indicou uma pessoa que tinha um estúdio móvel Douglas Martins, conversei com o Wilton da Heavy Metal Rock de Americana e ele se juntou a esse projeto e aluguei um equipamento P.A e “backline” aqui de uma Empresa de Santos. Isso tudo custou meu Passat e eu fiquei a pé! Chamei uma banda de Araguari-MG chamada Reticências, hoje eles chamam-se “Tríade” para a abertura do show. Foi uma noite digna de Metal Nacional, o ginásio estava lotado.
Uma semana depois peguei a fita sem nenhuma mixagem do jeito que estava e fiz apenas um “overdub” na bateria da última música porque no show a caixa do baterista havia caído e ficamos um tempo sem batera, mas eu indico isso na ficha técnica do álbum. Com essa fita dei entrada na Fermata e pouco depois estávamos com o LP nas mãos.



Qual era a relação do Vulcano com as bandas de outros lugares, como São Paulo e ABC Paulista?

Zhema: Nós não tínhamos contato na época, conhecíamos os caras do Golpe de Estado e o Topperman do Korzus. Eu pessoalmente tinha mais contato com Made in Brazil e Patrulha do Espaço.

1986 é o ano de lançamento do Bloody Vengeance, primeiro álbum de estúdio (e segundo da carreira), que é um marco na história do Metal extremo mundial. Como foi a gravação desse disco?

Zhema: O “Bloody Vengeance” já estava quase todo pronto enquanto estávamos fazendo shows de divulgação do Live. O Live saiu em Outubro de 1985, eu acho que e em janeiro de 1986 nós já estávamos com o “Bloody Vengeance” pronto. Gravamos logo em seguida mas houve algum “plano econômico” no país que faltava tudo e no caso faltou papelão para fazer as capas, por isso demorou uns meses para lançamento. Aquele álbum foi gravado em um final de semana, entramos no estúdio em um sábado a tarde e saímos no domingo pela noite. Gravamos todos os instrumentos de cordas no mesmo amplificador meu Giannini 100B, um amplificador para contrabaixo. Os caras do Golpe de Estado estavam lá na noite do sábado e eu aproveitei as vozes deles para produzir “Voices from Hell”. Uma curiosidade foi que gravamos a música “Bloody Vengeance” somente com a luz de umas velas no canto da sala. O técnico de som ficou apavorado e não queria nos deixar fazer aquilo. Mas nós insistimos.

O que esse álbum simboliza na carreira do Vulcano?

Zhema: Este álbum na carreira do VULCANO preenche dois lados antagônicos, é o mais importante de nossa carreira e também é nosso estigma. E antes que me pergunte porque vou esclarecer. Ele é um estigma para o VULCANO porque a cada álbum que a Banda lança e já foram 12 depois dele, TODOS esperam um novo “Bloody Vengeance”, mas isso é impossível!!!!


Como era a cena underground em Santos, na década de 1980?

Zhema: Uma cena formada por fãs de Rock, Hard Rock e N.W.O.B.H.M. Haviam muitos eventos e bebedeiras. As Bandas Santista de Death Metal começaram a surgir após 1987. O Hardcore em Santos era, e sempre foi, muito forte.

Após o álbum "Ratrace", o Vulcano decide dar uma pausa na carreira. Qual o motivo dessa pausa?

Zhema: Desânimo! O metal que estava emergindo nos 90 não me interessava mais. Tinha muita coisa “fancy and fake” e depois piorou!

No final da década de 1990, a banda retorna com um novo vocalista, o Luiz Carlos Louzada. Por que o Angel não voltou logo no início essa reunião?

Zhema: Não foi bem assim. Aconteceram alguns shows de retorno do VULCANO em que o Angel não estava mais afins de cantar e como o Soto Jr. estava totalmente empolgado, chamamos o Luiz Carlos para fazer esses shows. Eu mesmo também não estava muito afins, e isso resultou em três músicas bônus para o lançamento do LIVE no formato CD. Ocorreram shows também com o Guilherme do IN HELL. Mas o retorno mesmo do VULCANO foi com o álbum “Tales from the Black Book” em 2003 e foi com o Angel.


Em 2001, a banda é pega de surpresa com a morte do guitarrista Soto Jr. De que forma essa morte impactou a banda? Pensaram em parar após essa perda?

Zhema: O Junior era uma cara muito empolgado no retorno do VULCANO e eu mesmo credito a ele esse fato. Ele era muito espirituoso e me ligava todos os dias para falar sobre isso. Começamos a ensaiar este retorno e fizemos alguns shows também, lembro-me que o último show com o Junior foi dia de finados aqui em Santos e um mês e pouco depois ele morreu!
Foi um choque enorme, afinal um cara tão espirituoso e jovem se foi, ele tinha 39 anos.
Dei uma parada de um ano na banda, mas depois resolvi homenageá-lo e escrevi o “Tales from the Black Book” e então sim, retornamos pra valer!

"Tales from the Black Book" é o primeiro álbum após essa reunião do Vulcano, agora com Angel nos vocais. Como foi gravar um álbum após tantos anos?

Zhema: Foi tranquilo, a tempo que não tenho muita coisa para falar dele, apenas que na época recebemos muitos elogios de críticos na Europa dizendo que aquele álbum foi o melhor álbum de retorno de uma Banda, que na época estavam pipocando bandas retornando.


A banda já tem diversas turnês europeias em seu histórico (inclusive, fará mais uma em novembro/dezembro) . Qual a diferença do público brasileiro para o europeu?

Zhema: Eu percebo muita diferença, e tentando resumir essa percepção; o público Europeu vai para os shows sejam eles na segunda-feira ou no sábado, não importa o dia da semana. Porém é importante dizer que lá os shows começam pontualmente no horário indicado, sempre por volta de 19h00 com a banda “headliner” entrando no máximo as 21h00, então 23h00 todos já se foram. Isso é um diferencial muito grande do motivo dos shows funcionarem de segunda a segunda. Os “headbangers” Europeus não ficam na porta do evento, eles entram assim que chegam, prestigiam todas as bandas, compram o “merchandising” tomam suas cervejas e aplaudem. Quando se empolgam com a banda, esperam um pouquinho para falar com os integrantes.
Aqui no Brasil, na minha e exclusiva opinião, existem dois públicos – uma para os shows do “mainstream” que eu chamo de “Metalheads” e outro para os shows do “Underground” e eu os chamo de “Headbangers”. O primeiro só aparece nos shows de bandas gringas e “mainstream” o segundo aparece tanto em um como no outro, mas a grana fica curta para esses e portanto conseguem ver menos shows. Não quero chamar polêmica, mas é uma verdade!

Como é a rotina em uma turnê europeia, que passa em várias cidades de diversos países?

Zhema: A rotina é descer do aeroporto e já ter uma van te esperando, com um bom planejamento já é possivel realizar o primeiro show no mesmo dia que chegamos. Chegamos no local, descarregamos a van, montamos o palco e fazemos o “check sound”. Sempre e em todos os lugares existe um ótimo “catering” com bebidas a vontade e mais tarde um “dinner”. Após o show e desmontagem do “backline” vamos ao hotel, e ali ficamos bebendo o restante das cervejas e “spirits” e no dia seguinte partimos para a próxima cidade.
Quando fazemos isso em um circuito mais próximo do “mainstream” então viajamos de “nightliner” e neste caso o “nightliner” passa a ser nossa própria casa e convivemos três bandas juntas o tempo todo. É muito melhor desta maneira, eu penso! E também pela possibilidade de interação por semanas com os músicos dessas bandas e isso nos tornam amigos após o término da turnê.


Após o álbum "Five Skulls and One Challice", Angel sai do Vulcano. O que ocasionou a sua saída?

Zhema: Já na gravação deste álbum ele já não estava presente, tanto que as linhas de vozes foram gravadas em Criciúma no Sul do país. Ele tinha outras prioridades naquela época e optou por sair. Não foi nada de desacordo ou coisa parecida. Como o Luiz já havia estado no VULCANO em oportunidades anteriores foi fácil recrutá-lo.

Dois anos após o "Five Skulls and One Choice", a banda já lança um novo álbum, o "Drowning in Blood", com Luiz Carlos Louzada nos vocais. O processo de composição mudou após a troca de vocalistas?

Zhema: O Luiz Carlos teve sua reestreia na primeira turnê Européia, e quando voltamos eu percebi que era necessário apresentá-lo aos fãs e então eu precisava escrever um álbum inédito, gravá-lo e lançá-lo em um tempo curto. Não haveria tempo para os demais “pegarem” as músicas, ensaiá-las etc. Assim eu fiz quase tudo sozinho, exceto as baterias e evidentemente, as vozes. Deste álbum em diante aprendi a ser mais rápido nas composições.


É notável que o Vulcano é uma banda que frequentemente lança material. O que faz vocês sempre estarem produzindo e trabalhando?

Zhema: A vontade de não permanecer na mesmice. Eu tenho na minha mente que se uma banda existe, não é para viver do passado e o passado para mim é dois anos. Dessa forma estou sempre procurando mostrar algo novo.

No ano de 2016, foi lançado o documentário "Os Portais do Inferno Se Abrem: A História do Vulcano". Como foi a produção desse documentário?

Zhema: Foi uma iniciativa do Vladimir Cruz e Rodney Assunção da “Just Design”. Certa noite me procuraram na sala de ensaio e me propuseram produzir um documentário. Eu pensei inicialmente que Eu teria que arcar financeiramente com o projeto e então eu disse que não teria nada para ajudá-los e eles me disseram: Não precisa você já tem a história.
A partir daí eu apenas forneci uma pequena lista de pessoas a serem entrevistadas e um material que tinha em minha garagem. Eles fizeram tudo sozinho. Eu não dei palpite em nada, pois era de meu interesse saber como outras pessoas enxergavam o VULCANO. Eu mesmo assisti a primeira vez o filme juntamente com os fãs na estreia no Cine Roxi.



Em 2017, foi lançado "XIV", décimo quarto trabalho da banda. Como esse álbum foi recebido pelos fãs e pela crítica?

Zhema: Como um excelente álbum! E é mesmo um álbum muito bom. Deixamos para trás aquela coisa de afinação em barítono que usamos nos dois álbuns anteriores e passamos a manter novamente a essência que o VULCANO tem que praticamente é simplicidade e honestidade musical. Fazemos o que gostamos em termos de composições, nada mais!

Quais as diferenças do underground na década de 1980 para o atual?

Zhema: Até o despertar dos anos 80 não havia qualquer separação entre o “mainstream” e o “UNDERGROUND” que estava nascendo junto também por conta de que não havia shows internacionais no Brasil e então nossos “heróis do Metal” eram as bandas domésticas e assim nasce junto o “UNDERGROUND”. Não havia separação entre um e outro porque eram os mesmos fãs. Atualmente como já abordei um pouco atrás, uma parte dos fãs do “mainstream” se separou e por outro lado  o “UNDERGROUND”  tornou-se algo muito forte deixando de ser o “patinho feio” e tornando-se uma Cultura, e cultura é algo forte, enraizado, provido de personalidade e honesto. Eu tenho mais orgulho de estar nessa cultura do que no efêmero “mainstream”.

Em maio de 2018, foi realizado um show no Sesc Pompéia, sendo este gravado e futuramente se tornará um DVD. Pode contar um pouco sobre esse DVD?

Zhema: Foi um show do VULCANO e VAZIO e que o “Núcleo Porta Preta” gravou profissionalmente. Isso foi no meio de 2018 e após isso eles fizeram a edição do DVD. Por algum motivo que ainda desconheço, esse projeto parou e por enquanto estou aguardando por notícias.



O Vulcano é uma das bandas mais longevas bandas brasileiras. O que motiva a banda a sempre se manter na ativa?

Zhema: A paixão pelas músicas que fazemos. Na frente da Banda eu sou o maior fã do estilo de música que o VULCANO faz e exatamente por isso é que continuo fazendo.

Como já citado, a banda está prestes a realizar mais uma turnê europeia. Como é a preparação para esse período?

Zhema: Desta vez nos juntamos com a Artery Global U.K e todo o planejamento esta nas mãos deles, eu tenho apenas a cidade que irá começar (Osberhausen - Alemanha) e a cidade que vai terminar um mês depois Barcelona - Espanha. Sei também que uma parte faremos novamente com o NIFELHEIM e vamos passar pela Scandinávia, Polônia e Reino Unido.


Quais os planos para o futuro?

Zhema: Atualmente trabalho duramente no novo álbum da Banda. Pretendo estar com a “master” de em mãos em Maio. E estamos, pela primeira vez sob convite de uma gravadora importante da Europa que aguarda a audição desse álbum.

Zhema, foi uma honra poder conversar com um dos "pais" do Metal extremo na América Latina! Sem dúvida, o Vulcano ficará marcado na história desse estilo musical. Passo a palavra para você, caso queira deixar algum recado aos leitores do Blog e fãs do Vulcano...

Zhema: Eu também agradeço a você por essa oportunidade de falar sobre o VULCANO e outros assuntos, também deixo aqui um agradecimento aos leitores do “blog” que teve a paciência de chegar na leitura até aqui.
Aos que ainda não conhecem a história da banda com profundidade gostaria de deixar o convite para irem até o Bandcamp do VULCANO e ouvirem nossos álbuns. Recomendo começar do último LIVE III para o primeiro lá nos idos de 80. Assim poderão entender melhor o que foi o inicio da carreira.
Um grande abraço a todos.



quarta-feira, 13 de fevereiro de 2019

Entrevista Paulão Thomaz

Existem músicos que passam toda a sua vida se dedicando a uma única banda, e outros, sempre tocando em diversas bandas. Entre esses do segundo caso, está Paulão Thomaz, baterista que há mais de 30 anos vem tocando o Rock 'n' Roll, tendo passado por muitas bandas. Nessa entrevista, Paulão fala sobre toda a sua carreira, desde o Centúrias até o Hot Devilles. Divirtam-se!


Paulão, é uma honra estar podendo entrevistando uma das maiores figuras do Rock 'n' Roll Nacional. Seja bem vindo e sinta-se à vontade!!

Paulão: Aê, obrigado Mateus... Esse apoio é fundamental!

Como a música entrou na sua vida?


Paulão: Lá no final do anos 60, com "Jovem Guarda", disco do Roberto Carlos com a música "Lobo Mau". 



Quais suas principais influências musicais?


Paulão: Deep Purple, Led Zeppelin, Black Sabbath, Rainbow, Patrulha do Espaço, Tutti Frutti, Made in Brazil.

O que fez optar por tocar bateria?


Paulão: Quando vi pela primeira vez o baterista Rolando Castello Junior no Patrulha do Espaço. Ali mudou minha vida!

De que forma se deu o início do Centúrias?

Paulão: Comecei a estudar bateria em 1977, e queria toca pesado, devido as minhas influências. Então encontrei uns amigos que tocavam um estilo meio "Sabbath" na banda Musifilia, a banda terminou ai fundamos o Centúrias.

De onde veio o nome "Centúrias"?


Paulão: Foi meu amigo Regis Tadeu quem deu o nome.



Em 1981, ocorre o primeiro show do Centúrias. Comente um pouco sobre esse show.


Paulão: Nessa época tínhamos um tecladista, o Guina Martins, oriundo do "Zero Hora" grande banda que contava com o baterista Charles Gavin (que mais tarde tocaria nos Titãs), nessa época tínhamos um som meio "Sabbath" e meio "Rainbow". E sempre autoral, nunca tocamos um cover.

Em 1984, a Baratos Afins lança a coletânea "SP Metal", que teve grande importância para consolidar o Heavy Metal brasileiro. Como o Centúrias foi "escalado" para participar dessa coletânea?


Paulão: O visionário Luiz Calanca (proprietário da Baratos Afins) estava acompanhando a cena na época com várias bandas nascendo, como Vírus, Salário Mínimo, Avenger, Abutre, Korzus. Enfim, um grande movimento se formava. Aí ele viu o Centúrias e nos convidou. Foi sensacional essa época!

"Duas Rodas" e "Portas Negras" até hoje são clássicos, e que a banda ainda toca nos shows. O que essas músicas representam para você e sua carreira?


Paulão: Poxa, resume uma época de ouro e onde tenho muito orgulho. Fiz a letra de "Duas Rodas" após assistir o filme "Mad Max". E "Portas Negras" é um som muito bem composto e uma puta letra, com uma introdução de baixo sensacional composta por Edu Camargo (o vocalista na época) e muito bem executada por Milani, o baixista na época.



Como era o cenário do Underground na década de 1980? As bandas eram muito unidas?


Paulão: Era maravilhoso! Todos amigos,havia muito respeito e admiração, e cada um no seu estilo e com muita união todos se ajudavam, já que equipamento naquele tempo era muito ruim e escasso.

Em 1986, o Centúrias lança "Última Noite", o primeiro registro do Centúrias como banda única. Como era para jovens Rockeiros estarem lançando o seu primeiro disco como banda única?


Paulão: Esse EP significa muito pra mim, foi uma fase onde a banda se encontrava unida e criativa, ficamos muito felizes com com o resultado desse EP. Tivemos muito apoio da mídia, tínhamos um grande vocalista com muita criatividade e um guitarrista virtuose com apenas 17 anos, foi uma fase maravilhosa.



Ainda nos anos 80, você teve uma breve passagem pela banda de Thrash Metal Korzus. Poderia nos falar sobre essa passagem?


Paulão: O Zema (baterista original do Korzus, e por sinal um dos melhores na época) estava desanimado, aí me convidaram. Apesar de não ser o meu estilo (sou mais Hard Heavy) foi uma passagem meórica divertida pakas. E até que me dei bem, pois na época o Korzus não era tão técnico e virtuoso como hoje em dia, era mais direto e na raça,fizemos 2 shows, sendo um deles histórico em Americana , com várias bandas importantes na época, como o iniciante sepultura. Mas não me sentia muito a vontade em tocar esse tipo de som, e logo após esse show em americana o Zema se animou e voltou. Tenho muito respeito e admiração por essa grande banda que está até hoje por aí, fazendo um puta som.

Em 1988, o Centúrias lança o álbum "Ninja", até hoje bastante lembrado pelos Headbangers brasileiro. Se sentiram mais a vontade para gravar esse disco, dada a experiência maior em estúdio?


Paulão: O "Ninja" foi uma guinada para o Heavy Metal, com o line up totalmente reformulado, pois só havia sobrado eu (hahaha). Juntei então aos "ex-harppias" (banda na qual era muito fã) Marcos Patriota e Ricardo Ravache, grandes músicos muito experientes, e com um jovem iniciante vocalista, o Nilton "Cachorrão" Zanelli. Ele tinha uma voz muito marcante, aguda e com potência se encaixou perfeitamente ao nosso som, e todos nós éramos muito fãs do Judas Priest, então essa guinada para o Heavy Metal foi natural.



A cada lançamento do Centúrias que se passava, era uma formação diferente. O que influenciava nessas repentinas mudanças de formação da banda?


Paulão: Bom, como disse, é natural que mude, afinal são outras pessoas com estilos e influências e modo de compor totalmente distintas.

Após o lançamento do "Ninja", a banda encerra as atividades. O que ocasionou o fim da banda, nessa época?


Paulão: Com a saída de Marcos Patriota (que foi para a Suécia) ficamos bem desanimados, principalmente eu já estava na quarta formação. Não é legal uma banda mudar tanto, e éramos muito unidos, havia uma química imensa, então não houve outra saída senão encerrar por ali.


Após o fim do Centúrias, você vai tocar na banda "Firebox", que lançou apenas o álbum "Out of Control", em 1992. Como foi o processo de composição nessa nova banda?

Paulão: Me encontrava sem banda, aí em um show do Motörhead no Projeto SP encontrei Michel Perrie, grande guitarrista e professor e estava montando uma banda muito boa com composições originais em inglês. Já que na época o Sepultura estava estourado então pensamos que esse era o caminho, então topei na hora o convite.

Como foi a distribuição do "Out of Control"?

Paulão: Foi total independente, tivemos apoio da mídia do Rock Pesado, mas foi tudo por nossa conta.

O que causou a sua saída do Firebox?

Paulão: Houve muitos desentendimentos com o Michel (líder da banda), aí já não havia mais clima em tocar com eles.


No final da década de 90, você toca na banda "Cheap Tequila". E com isso, você acabou tocando no álbum lançado em 1998. Comente sobre esse álbum.

Paulão: Estava bem desanimado com a cena do Metal... Não me identificava mais com o que estava por vir, que era o metal melódico e toda aquela coisa virtuosa demais para mim. Então fui tocar Rock 'n' Roll, que é minha paixão (gosto de tocar mais na raça e mais direto). Então o Cheap Tequila foi um respiro e uma fase totalmente nova e contava com grandes músicos também, mais influenciados pelo Blues e Rock.

De onde surgiu a ideia de regravar "Canalha", de Walter Franco?

Paulão: Foi do Ricardo Vignini (mentor e forte compositor da banda junto com Marcelo Bersotti). Eles tinham uma certa influência da "maldita MPB", Zé Ramalho, Walter Franco... E "Canalha" para mim é um Heavy Metal, com uma puta letra.



Você prefere tocar Rock em português ou inglês, ou não faz diferença para você?

Paulão: Durante muito tempo preferi em português, mas hoje em dia tanto faz, se a música é boa e soa com naturalidade.

Nos anos 2000, você monta a banda Baranga. Como se deu o início dessa banda?

Paulão: Em um encontro com o Deca e o Xande no Centro Cultural, em algum show do Patrulha. O Deca estava fora do Pitbulls on Crack, e aí conversando, comentamos em fazer um som juntos, com um estilo meio Status Quo e AC/DC. Aí combinamos um ensaio com o Xande e o Soneca e nasceu a "Baranga" já com um som autoral, "Show de Rock 'N Roll".


Porque o nome "Baranga"?

Paulão: No primeiro ensaio tínhamos que por um nome, aí veio "Caranga", mas já tinha banda com esse nome, aí o Xande zuando falou "Baranga". Iamos mudar mas acabou ficando. (hahaha)

Em 2003, a banda lança o primeiro álbum (homônimo). Qual foi a repercussão desse álbum na época?

Paulão: Foi legal, era uma época que o Rock ainda estava em alta, tocamos bastante.

Como é o processo de composição musical do Baranga?

Paulão: Basicamente é no ensaio. O Deca ou o Xande vem com riffs e desenvolvemos, Soneca ajuda e as letras são 90 % do Xande, e algumas do Soneca.



No ano de 2005, é lançado o "Whiskey do Diabo", um divisor de águas na história do Baranga. Quais suas considerações sobre esse álbum?

Paulão: Na minha opinião é o melhor! Grandes músicas, muito bem aceito, muito bem divulgado, enfim... É um clássico, e repito (é minha opinião).

"Pirata do Tietê" ganhou um videoclipe. Fale um pouco sobre como foi a gravação/produção desse que foi o primeiro clipe da banda.

Paulão: Já fiz vários vídeos, mas esse tenho um carinho especial. Grande música, que acho que devia ser o hino de São Paulo! Muito bem produzido pela "Gasolina Filmes". Levamos das 5 da manhã até as 20 horas para gravá-lo, mas valeu muito a pena.



Vocês já chegaram a tocar no festival "Eje del Mar", no Chile. Como foi para vocês tocar fora do Brasil?

Paulão: Foi maravilhoso! Tocamos com bandas sensacionais, e lá o profissionalismo e o respeito são levados a sério, e o público é insano.

Há alguma diferença do público Rocker chileno para o brasileiro?

Paulão: Sim, são mais fiéis e "doidos", Rockeiros pakas (hahaha)

Em 2009, vocês abriram o show do lendário Motörhead. O que esse show representou para você? Afinal, o Motörhead é uma de suas bandas favoritas.

Paulão: Foi um sonho realizado, não só para mim, mas para a banda toda! Estar naquele palco foi umas das melhores sensações que já tive tocando.


Relate sobre o encontro de vocês com o Phill Campbell (guitarrista do Motörhead) após o show.

Paulão: Foi em Florianópolis. Abrimos para o Motörhead lá, foi melhor que aqui (SP), público mais receptivo e vendemos muito merchandising. Estávamos no camarim após show, felizes e "bebemorando", quando entra pela porta o Phil Campbell com um balde de cerveja nos parabenizando pelo show, e ainda elogiando o Xande pela introdução que ele faz na "Whiskey do Diabo" usando o slide. Isso é impagável, um dos melhores momentos da minha carreira!!

No ano de 2012, é formada a banda Kamboja. De onde surgiu a ideia de montar mais essa banda?

Paulão: Era um antigo projeto meu com o Fabio Makarrão, e resolvemos botar o Kamboja na estrada. Estava já MEIO desmotivado em continuar com a Baranga naquele momento, aÍ vi seria uma boa fazer o Kamboja, já que sempre curti Hard Rock e Heavy Metal no estilo "anos 80", e o Kamboja se encaixava nesse meu desejo em fazer esse som.


Entre 2013 e 2018, o Kamboja lançou um EP e dois álbuns, o "Viúva Negra" e "Até o Freio Estourar". Comente um pouco sobre esses lançamentos.

Paulão: O EP foi composto muito rápido, pois estávamos entusiasmados com o som. Nesse EP contamos com: André Cursi (guitarra) e Frank Gasparotto (baixo), e o Makarrão além de letrista é Vídeo Maker, fizemos bons e hilários clipes desse EP.
Já o "Víuva Negra" começou bem, mas durante as gravações o André "pulou fora do barco", foi tudo muito conturbado, mas fizemos os maiores hits da banda nesse CD, no meio das gravações nos recrutamos o excelente guitarrista Edu Moita. Seu estilo veio somar e muito, com seu estilo mais "Bluseiro" e com ótima técnica de slide. Ficamos muito animados com a entrada do Edu, e logo compusemos o "Até o Freio Estourar". Foi um grande trampo envolvido em um ótimo astral, gravado e produzido por Rogério Wecko, nos estúdios "Dual Noise"... Foi tão bem recebido pela galera que o Luiz Calanca (proprietário da Baratos Afins), resolveu lançá-lo, foi um grande momento da banda.


Em 2014, você participa do "Mano Sinistra", banda que tem o violonista Ricardo Vignini, que já tocou com você no Cheap Tequila. O que te levou a criar outra banda com Ricardo?

Paulão: É um projeto do Ricardo Vignini mais voltado para o Rock, então ele me chamou para gravar, porque me encaixava no estilo das músicas que ele queria lançar. Foi uma experiência muito legal, e que contava também com o excelente músico e amigo Luki no baixo.


O Kamboja lançou vários videoclipes ao decorrer de 5 anos. Você acha que as plataformas digitais ajudam ou prejudicam em algo na cena do Rock Nacional?

Paulão: No caso do Kamboja, foi a nossa maior arma de marketing. Ficamos conhecidos muito rapidamente devido aos clipes, o MK (Fábio Makarrão) tem um grande talento em ideias e direção, para nós foi fundamental essa ferramenta. Acho muito importante hoje em dia o clipe, imagem é fundamental nas redes sociais.

Chegou a um certo momento durante sua carreira que você optou por seguir tocando apenas com o Kamboja, deixando o Baranga com outro baterista. Quais as principais dificuldades de tocar em duas bandas?

Paulão: O Kamboja começou a virar e tocar bastante, e naquele momento estava muito entusiasmado com o nosso trampo, aí resolvi sair do Baranga, porque iria conflitar datas e trampos no futuro.



Em 2018, você saiu do Kamboja, e logo em seguida retornou ao Baranga. Essa saída do Kamboja foi proposital? Caso não, comente sobre como você retornou ao Baranga.

Paulão: Infelizmente, por diversos conflitos internos o Kamboja se desfez. Estava bem abalado com o fim da banda naquele momento, aí estava em um show do patrulha no Sesc Belenzinho, na saída fui tomar umas com o Deca e o Xande do Baranga e eles comentaram que o Alemão (batera na época), estava passando por problemas de saúde e não poderia continuar na banda, e fui convidado a voltar. Topei na hora, foi um sinal! hahaha.

No final de 2018, você ingressou na banda Red Neck Brotherhood, que agora denomina-se Hot Devilles. Qual a sonoridade da banda?

Paulão: É um som que curto muito, estilo Southern Rock, com muito Blues, pesadão, e ainda é um trio (baixo batera e guitarra). Sempre quis tocar em trio, curto muito esse formato, e é fácil e ao mesmo tempo desafiador de trabalhar, curto muito essa banda e com os parceiros Mauro Catani (baixo) e Eddie Brandoff (guitarra e voz).

Já tem algum material pronto para gravar com o Hot Devilles?

Paulão: Sim, temos 9 sons autorais e pretendemos fazer mais um e logo gravar.


Quais seus planos para o futuro?

Paulão: Meus planos são os mesmos desde 1980, hahaha. Tocar , gravar e fazer shows por aí, essa é a vida do rockeiro. Abraço, e espero vê-los nos shows. Fiquem ligados!

Paulão, saiba que foi uma honra te entrevistá-lo! Sua obra é de extrema qualidade, e de suma importância para o Rock 'n' Roll nacional. Passo a palavra para você, caso queira deixar algum recado aos seus fãs e aos leitores do Blog.

Paulão: Aê Mateus, muito obrigado pela oportunidade! Fiz um breve resumo da minha carreira, quase 40 anos na estrada é um livro... Mas espero que gostem, foi breve e sincero. Abraço a todos, longa vida ao Rock 'N' Roll! E vão aos shows das bandas, sem público não há banda!