quarta-feira, 15 de maio de 2019

Entrevista Grego (Lobotomia)

Lobotomia é uma das bandas pioneiras do Hardcore no Brasil, ao lado de bandas como Ratos de Porão, Armagedom, entre outras. Nessa entrevista, falo com Paulo Grego, baterista e membro presente em todas as formações. Abordamos sobre toda a carreira da banda, desde seus primórdios em 1984 até "Desastre", o mais recente lançamento do Lobotomia, de 2016.


De que maneira a música Punk entrou na sua vida?

Grego: Quando ouvi pela primeira vez foi foda, as letras o tipo de som paixão a primeira vista.

O que te fez optar pela bateria?

Grego: Sempre gostei de bateria desde moleque mas só fui conseguir uma batera aos 19 anos.

Em 1984, é formado o Lobotomia. Como se deu o início da banda?

Grego: Foi logo quando arrumei a batera, aí formamos a banda.


Por que o nome “Lobotomia”?

Grego: Tínhamos outros nomes mas Lobotomia foi o que prevaleceu.

Um ano após sua formação, a banda é convidada a participar da coletânea “Ataque Sonoro”, com as músicas “Faces da Morte” e “Lobotomia”. Como foi a gravação dessa coletânea?

Grego: Foi nossa primeira experiência em estúdio e neste dia gravamos juntos com o Ratos de Porão.

No ano de 1987, é lançado o primeiro álbum da banda, autointitulado “Lobotomia”, este que possui clássicos da banda, como “Vítimas da Guerra”, “Indigentes do Amanhã”, “Política Sionista”, etc. Qual foi o impacto desse disco na época?

Grego: Naquela época tudo era difícil, não existia muitos estúdios de gravação nem técnicos que entendiam o estilo de som, até o estúdio que gravamos o técnico nunca tinha gravado uma banda de Punk, ele só gravava musicas evangélicas…(risos)



Em 1989, a banda lança seu segundo álbum, “Nada é Como Parece”, contando apenas com você e o Adherbal da formação do primeiro álbum. O que ocasionou a saída dos outros integrantes?

Grego: Sempre acontece de alguém sair da banda. Acaba o tesão, ou a pessoa quer fazer outras coisas, para mim é normal mudanças.

Houve uma boa aceitação do público, quanto à mudança de formação?

Grego: Sim, não tivemos problemas com as mudanças.



A banda passou por diversas formações ao longo de sua carreira. De que maneira isso influencia na sonoridade de cada formação?

Grego: Muita coisa, porque cada integrante tem um estilo diferente dos outros e com essas mudanças o som muda um pouco ou muito. 

No início da década de 1990, a banda resolve parar as atividades. O que causou essa pausa naquela época?

Grego: Na época o Billy resolve sair da banda, o filho dele tinha acabado de nascer e outros motivos pessoais que o levaram a sair e na hora não tinha certeza se conseguia levar a banda sozinho.

Nesse período de inatividade do Lobotomia, você chegou a tocar em outras bandas?

Grego: Toquei com duas bandas: SAFARI HAMBURGUERS e UKCT.



O que ocasionou o retorno da banda, no início da década de 2000?

Grego: O motivo do retorno foi que o Lobotomia nunca devia de ter parado, foi o que eu pensei quando a banda voltou.


Em 2008, é lançado “Extinção”, terceiro álbum da banda. Como foi o processo de gravação/composição, levando em conta o tempo sem gravar, e os novos adventos das tecnologias de gravação?

Grego: Este álbum foi gravado com quase todos os ex-integrantes que gravaram o “Nada é Como Parece”, mas muitas músicas foram feitas antes do retorno dos integrantes. Pra falar a verdade não foi uma gravação legal porque só tínhamos 2 dias de gravação, então os erros que aconteciam eram arrumados na hora de mixar, enfim uma merda… (risos)

Em mais de três décadas em atividade, a banda conta com várias turnês fora do Brasil em seu currículo. Quais as principais diferenças entre tocar no Brasil e fora dele?

Grego: Tudo. Os equipamentos, o apoio que a casa dá aos músicos, mesmo a casa não enchendo eles pagam o que foi acordado, pelo apoio que a banda recebe do público comprando o merchandising da banda e às vezes eles compram até para o amigo que não foi e quando gostam do som da banda eles realmente viram fãs. 


Em 2016, é lançado “Desastre”, quarto álbum de estúdio da banda. Nele, a banda incorpora um som bem mais “Metal”, em relação aos álbuns anteriores. Quais as principais influências em “Desastre”?

Grego: A banda era outra, eu era o único original, era como se não fosse Lobotomia e sim outra banda que tocava músicas do Lobotomia. Digo isto porque se fosse o vocalista original da banda e o resto fosse outros músicos não teria muitos problemas, mas quando o original da banda é o baterista, muda as coisas. Em relação ao som, sim mudou bem o estilo.



Entre “Extinção” e “Desastre”, há uma lacuna de 8 anos sem lançamentos, mesmo com a banda em atividade. O que fez a banda ficar esse tempo sem gravar?

Grego: Neste tempo teve muito entre e sai da banda e por isso não tinha muita música para gravar um álbum inteiro.

O Lobotomia participa de um tributo a banda Simbiose, com a música “Quem vai Ganhar?”. Como surgiu esse convite?

Grego: Conhecemos o Simbiose faz tempo, tocamos com eles quando estiveram no Brasil em 2007 ou 2008, não lembro a data certa, e tocamos com eles em Portugal em 2015.



No mesmo ano de lançamento do “Desastre”, é lançada uma Demo dos primórdios da banda. De onde surgiu esse material, e porque lançar tantos anos após essa gravação?

Grego: Quem lançou a Demo foi o Mateus do NADA NADA RECORDS. Eu nem lembrava dessas músicas e nem aonde gravamos elas, ficaram perdidas até o Mateus achá-las.

Essa Demo conta com músicas que não estão em nenhum álbum, como “Presidente da República”, “Vai se Fuder” e “Desordem e Regresso”. Por que essas não chegaram a ser gravadas em estúdio?

Grego: Esta está na resposta anterior.


Quais as principais diferenças da cena na década de 80 para atualmente?

Grego: Tudo era diferente. Era mais original, não era divulgado na mídia, era realmente underground. Hoje em dia você compra uma camiseta do RAMONES na Renner e paga sei lá quanto numa calça rasgada, naquele tempo as pessoas normais se desviavam de você pelo visual.

Nos últimos meses, foi divulgado em redes sociais da banda, vídeos da banda em estúdio, gravando o que seria parte de um Split com o Social Chaos. Esse Split ainda será lançado? Se sim, existe uma previsão de quando ocorrerá tal lançamento?

Grego: Não sei se vai ser lançado ainda, mas se não sair colocarei as músicas na rede.

Grego, foi uma honra poder entrevistá-lo. Sou fã do Lobotomia, e a contribuição da banda para a música Punk/Hardcore/Crossover foi fundamental. Passo a palavra para você, caso queira deixar algum recado aos seus fãs e aos leitores do Blog...

Grego: Agradeço pelo convite da entrevista e desejo para todos muito Hardcore e não se deixem levar pelo fascismo vigente. Abraços, Paulo Grego.




sábado, 6 de abril de 2019

Entrevista Atahualpa Y Us Panquis

O Brasil Rocker tem a honra de trazer uma entrevista com aquela que é "a banda mais chinela do Rock Gaúcho": Atahualpa Y Us Panquis. Nessa entrevista, houve uma conversa com os membros originais da banda, que são Castor (bateria), Flávio Flu (guitarra), Jimi Joe (guitarra) e Paulo Mello (baixo). A banda fala sobre toda a carreira, inclusive, sobre planos futuros.



Como se deu o início do Atahualpa?

Flávio: Eu entrei na banda porque curti o esquema anárquico e quis fazer parte. Falei com o Miranda e ele me deixou entrar como segundo guitarrista.

Jimi: Atahualpa surgiu de uma conversa de bar entre eu e o poeta e publicitário L.C. Rettamozo no verão de 1984 como possível continuidade ao projeto Quem Tem Q.I. Vai, apresentado em vários bares e teatros de Porto Alegre no ano anterior

Paulo: Em 1984, estavam surgindo muitas bandas. E eu tinha uns amigos que tocavam em várias ao mesmo tempo. Eu tava tocando só no Taranatiriça e o Jimi Joe me ligou e disse que estava montando uma banda chamada Atahualpa Y Us Panquis. Eu achei ótimo o nome. Mas eu queria saber mais sobre a ideia e ele me disse que tinha algo a ver com o poeta e artista plástico Luiz Carlos Retamozzo, que andava por aqui com umas performances, que eu já tinha visto. Parece que ele que criou o nome da banda. Mas aí o Jimi disse que o Miranda ia participar e foi por isso que eu topei na hora. Logo depois liguei para o Miranda e ele me disse que o Jimi tinha passado a mesma conversa nele, dizendo que eu ia participar. Eu queria tocar com o Miranda, a gente era amigo, mas eu tinha entrado no Taranatiriça logo depois que ele saiu. O primeiro ensaio foi numa sala num prédio comercial no centro de Porto Alegre. O Jimi, o Miranda, eu e mais Carlos Branco e o Fernando Paiva na bateria. Não lembro se o Retamozzo estava. O Branco saiu em seguida, e como ele é que tinha conseguido a sala, os ensaios passaram para a casa do Miranda. O primeiro show foi Taj Mahal. Pouco tempo depois o Castor entrou no lugar do Paiva e o Flu também entrou.

Quais as principais influências da banda?

Flávio: No geral, sempre escutamos e tudo. O Miranda era o nosso grande fornecedor em época sem internet. A maioria das músicas eram composições do Jimi Joe, e imagino que ele quis uma coisa fora do comum, mistura de noise, pós punk, punk e metal. O objetivo principal era incomodar. E fez seu papel!

Jimi: Incontáveis. Da minha pode se citar desde Harry Belafonte até Stockhausen passando por Bob Dylan e Clash. Miranda era um devorador de todo tipo de manifestação cultural e de todos os estilos musicais.

Paulo: Era uma mistura, cada um trazia uma coisa diferente. Eu escutava de tudo. Aprendi violão como meu avô. Eu tinha ouvido as serestas dele, mas gostava era de Jovem Guarda e Beatles ainda pequeno, depois assisti Caetano, Gil e Mutantes, nos festivais da Record, depois Milton e o pessoal do Clube da Esquina, mas também as bandas clássicas de rock progressivo e hard rock, tipo Yes, Genesis, ELP, Pink Floyd, Led Zeppelin, Deep Purple. Estudei violão clássico e depois fui para o contrabaixo.  Depois comecei a ouvir jazz. Quando entrei no Taranatiriça a jogada era fazer rock pesado e bem tocado. Mas eu adorava ver o pessoal fazendo barulho tosco também. O pessoal mais punk, para mim era como free jazz, Jonh Coltane e Faroah Sanders que eu ouvia lá em casa direto, com o King Jim. Já o Miranda estava super ligado em outras coisas, ele sempre buscava as novidades, super antenado e super diversificado. O Jimi também. Ele tinha ótimas canções, com letras muito boas e interessantes, politizadas e aquela guitarra mais suja, tipo Neil Young. Eu já andava ouvindo outras coisas, Clash, Ramones, Police, Gang of Four.  Mas depois a gente começou a improvisar muitos nos shows e ficou punk mesmo. 


Castor: Sex Pistols, The Clash, Butthole Surfers, Replicantes.

Como era a cena do Rock Gaúcho na década de 1980?


Flávio: Era nossa geração colocando suas ideias na roda. Muito rock, punk, metal e pop. A ingenuidade era grande e por isso podemos ver pureza nas composições, arranjos e gravações. Ninguém tinha muita noção do que estava acontecendo, principalmente na hora de gravar. Mas ficou marcado pelos bom humor e refrães grudentos!

Jimi: Muito variada. Quando se fala de rock gaúcho parece que é um movimento ou manifestação única ou unificada mas na verdade eram várias tribos e representantes dos mais variados estilos e vertentes musicais.

Paulo: Muita banda surgindo, uma gurizada até mais nova que a gente. Havia o Taranatiriça e os Garotos da Rua que começaram um pouco antes. Também tinha a Chamborraia do Castor, com Justino e o Nequeti. Lá por 83/84 começaram a pintar os punks (Replicantes, Atraque), os new-wave (Urubu Rei), os metaleiros (Astaroth e outros), os mais pop, tipo jovem guarda (Prisão de Ventre), os mais rockers (TNT, Fluxo). Também toquei com os Bonitos e com a Prise. Essa classificação as vezes era mais de postura do que de som. No início o Taranatiriça se destacava pela produção. Os shows do Taranatiriça tinham uma produção bastante elaborada para a época, a gente viajava com um caminhão levando equipamento e de luz e som e um ônibus com a banda e a equipe que eram umas 20 pessoas. Isso incentivou muito o surgimento de outras bandas.

Castor: Haviam várias bandas de vários estilos, ninguém sabia direito o que fazer, ou como fazer. Aos poucos foram encontrando seus estilos característicos.


Em 1985, a banda participa da coletânea "Rock Garagem II", com a música "Todo Mundo Saca". Como foi essa gravação, com mais outras bandas dos mais variados estilos?


Flávio: Gravamos num estúdio considerado o melhor na época. O produtor era o Mitch Marini, que era considerado o roqueiro tarimbado, já com uma grande estrada percorrida. Da nossa parte foi diversão geral. Sempre foi uma banda de primeiro take, de deixar a loucura rolar.

Jimi: A gravação foi à moda Atahualpa, rápida, até porque a música dura apenas 1 minuto e meio, com Miranda no comando da produção musical. Foi gravada no extinto estúdio Isaec da Rua Senhor dos Passos em Porto Alegre. Emboraa coletânea Rock Garagem II abarcasse vários estilos, dá pra dizer que Atahualpa é o nome mais “peixe fora dágua” nessa seleção.

Paulo: Com a sequência de shows já tínhamos ficado mais punk. E Castor e o Flu já estavam na banda. Não encontrávamos muito com as outras bandas durante as gravações, mas quando nos encontrávamos era festa era todo mundo amigo. Alguns estavam em mais de uma banda, como o Castor, por exemplo.

Castor: Foi meio tumultuada, ninguém sabia produzir ou dirigir uma banda punk anárquica. Mas conseguimos um registro razoável, dentro da proposta.

Em algumas gravações do começo da banda, músicas como "Todo Mundo Saca", "Estou Fazendo", "Jesus" eram mais punks, algo que no álbum "Agradeça ao Senhor" não foi feito. O que os influenciou nessa mudança sonora?

Flávio: O disco foi um caso a parte. O Miranda tinha um crédito de estúdio por umas permuta de trampo. Daí foi resolvido que gravaríamos o disco todo na hora, sem nada programado. Agradeço ao senhor foi uma obra de colagem punk. Muitas músicas e letras saíram no dia da gravação. Um momento único registrado. 

Jimi: Foi ideia do Miranda. Quando entramos em estúdio, de deixar para trás tudo que vínhamos tocando até então e produzir um disco todo composto no estúdio. Foi um processo absolutamente insano. Houve um show de pré-lançamento do disco no Bar Ocidente e pouco depois Miranda foi pra São Paulo e eu também pouco tempo depois, provocando uma interrupção na trajetória da banda.

Castor: O disco foi produzido pelo Miranda, que fez com que a banda fosse mais um elemento de apoio às ideias dele. Enfim, não foi um disco da banda “Atahualpa Y Us Panquis”, foi mais um disco conceitual do Miranda, com a banda como apoio instrumental.



Considero "Agradeça ao Senhor" um dos álbuns mais loucos (no bom sentido, rs) do Rock Nacional. Como foi o processo de composição/gravação desse disco?


Flávio: Como disse antes, o processo foi de invenção. Por isso a loucura em tudo.

Jimi: Miranda tinha um dinheiro para receber do estúdio Eger, em Porto Alegre, pela produção de vários trabalhos comerciais como trilhas e jingles. Em vez da grana ele negociou com dona Malu, gerente do estúdio, o pagamento em horas de estúdio pra gravar um disco do Atahualpa. Daí deu-se o feito. Durante uma semana ficamos na Eger durante noites e madrugadas criando e gravando na hora todas as canções que aparecem no LP.

Castor: Basicamente nos reunimos num estúdio e deixamos de lado todas as nossas músicas e tentamos criar tudo novo, ali na hora ao vivo, gravando. Com muitos aditivos químicos e alcoólicos.

Esse álbum foi gravado em 1988, mas lançado 4 anos depois da gravação. Por que essa demora com o lançamento?


Flávio: O Calanca, dono do selo e loja Baratos Afins de São Paulo era muito amigo do Jimi e do Miranda. Daí o Jimi mostrou a cassete com a gravação e ele se interessou em prensar e lançar. Diz ele que foi o disco menos vendido da história do selo...

Jimi: Creio que com a ida do Miranda, e logo depois a minha, para São Paulo, o disco ficou esquecido até que em 1992, durante uma das minhas visitas de sábado ao Luiz Calanca, da Baratos Afins, decidi levar uma fita K7 com o disco pro Calanca ouvir. Na segunda-feira, Miranda me ligou no Estadão dizendo que o Calanca queria lançar o disco. Segundo o próprio Calanca, é o disco do catálogo da Baratos Afins que menos vendeu mas um dos que ele tem maior orgulho de ter lançado! Hahahaha!

Castor: Ninguém, com sanidade, queria lançar essa maluquice.


No ano de 2014, a formação com Miranda se reúne para a apresentação de algumas músicas ao vivo em um show do Jimi Joe, no Bar Opinião. Como foi essa reunião, após tanto tempo?

Flávio: Era uma data festiva, aniversário de Jimi Joe. Foi lindo. O Jimi fez uma retrospectiva de vários momentos da carreira. Veio a calhar de o Miranda e Castor estarem por Porto Alegre. Daí não tinha saída. Tinha que rolar essa junção para tocar alguma coisa. Foi bem emocionante!!

Jimi: Era um show proposto pelo produtor Marcio Ventura pra eu comemorar meus 39 (!!!!) anos de carreira. Resolvi juntar no palco todas as bandas que eu havia tocado ao longo desses anos e isso incluiu, logicamente, Atahualpa. Felizmente todos toparam e até Miranda apareceu meio de surpresa e cantou com a gente naquela que creio foi sua última apresentação como vocalista.

Paulo: Para mim foi demais, tocar de novo com os caras depois de tanto tempo. Foi sem nenhum ensaio nem nada, nos encontramos na hora ficamos conversando no camarim, e fomos para o palco, foi só diversão. E o Miranda apareceu bem na hora, a gente já tava no palco tocando quando eu vi ele ali do lado.

Castor: Foi emocionante. Inclusive foi a última vez que o Miranda subiu num palco conosco. A última vez que o Atahualpa se reuniu na sua formação original. Foi catártico!



Em tributo ao Miranda, a banda realiza um show no dia 22/03, no Gravador Pub. Quais as impressões da banda sobre esse show?


Flávio: Foi sensacional. Tocamos praticamente todas as principais músicas do repertório que fazia parte da demo, lançada acho que em 1986 pelo selo Vórtex. Todos ficaram muito felizes com o momento e com a recepção do público. Até nem fomos vaiados!!

Jimi: Caos, muito ruído e sobretudo a gratidão por poder celebrar Miranda que foi o mestre de todos nós, abrindo sua discoteca e conhecimentos gerais pra gente, compartilhando tudo sem apegos.

Paulo: Ideia do Flu e do Castor. O Miranda tinha dito que queria gravar as músicas do Atahualpa que não tinham registro legal. E no ano passado teve um tributo ao Miranda, com várias bandas, em que a gente participou e depois surgiu a ideia de cumprir este desejo do Miranda. O Flu e o Castor pensaram em aproveitar e fazer também um show. A gente ensaiou um dia, no outro já começou a gravar, tudo super relax, relembrando as músicas, os shows, como a gente tinha tocado. E aí levamos esse clima para o show.

Castor: O show foi um sucesso. Todos os presentes ficaram estupefatos com a sonoridade da banda, forte e intensa. O dono do pub, disse que, em mais de 500 shows na casa, este foi o melhor de todos!

Para esse show, Carlos Carneiro é quem faz as vozes. Como ele foi "escalado" para a banda?


Flávio: Conheço Carlinhos a 20 anos. E temos projetos juntos. Indiquei ele para fazer as partes do Miranda na primeira homenagem que fizemos em julho de 2018. Ficou perfeito!

Jimi: Acho que Flu pode responder melhor isso, mas creio que o Carlinhos tem o fisique de rôle corporal e vocal ideais pra ser o substituto de Miranda no Atahualpa.

Paulo: Foi por causa do tributo no ano passado ele participou em uma música com o Atahualpa e a gente curtiu. Então ele foi convidado para gravar e para o show.

Castor: O Flu toca com o Carlinhos em outros projetos, e tinha convidado ele para o tributo ao Miranda de 2018, logo após o falecimento dele. A química foi tão boa, que foi uma coisa natural chamá-lo para cantar. Eu ainda pressionei para ele tocar teclados, e ele conseguiu, de maneira brilhante e inovadora, bem adequado à filosofia do Miranda (e do Atahualpa), de quebrar paradigmas e botar a alma no palco.



Ainda há material de gravações (sejam elas demo tapes, sobras de estúdio, etc.) guardado? Se sim, há possibilidade dos mesmos serem lançados?


Flávio: As fitas rolos originais da demo estão sendo digitalizadas em São Paulo pelo Mateus Mondini. Talvez sejam lançadas. Ainda não sei de nada. Mas gravamos novas versões de quase todas com o Carlinhos no vocal. Deve rolar algo com esse material.

Jimi: Sim, sim e, mais uma vez, sim!

Paulo: Acho que a ideia é lançar as gravações feitas este ano. 

Castor: Existe um material antigo que está sendo digitalizado e poderá ser lançado junto ao novo disco que estamos gravando.

A banda pretende seguir fazendo shows constantes, ou apenas apresentações esporádicas?


Flávio: Como a gente curtiu muito essa junção com a entrada do Carlinhos, queremos muito fazer mais shows. Espero que role algo!

Jimi: Novamente um grande sim e sim, com maior prazer!

Paulo: Tudo é possível.

Castor: Quando possível, tocaremos, sim, de qualquer jeito, como sempre.

Com essa nova formação, há possibilidade de um novo disco do Atahualpa?

Flávio: Com esse material novo que gravamos, como falei anteriormente, espero que vire pelo menos material de streaming.

Jimi: Atahualpa não pode retornar porque nunca foi embora! Todos os integrantes carregaram o espírito de Atahualpa em seus mais variados projetos.

Paulo: Sim, Com as gravações feitas este ano. São umas 10 músicas.

Castor: Já está sendo gravado, com 9 músicas antigas, clássicas, nunca gravadas em estúdio antes, e 2 novas feitas na hora.



Após tantos anos, na visão de vocês, qual o legado do Atahualpa Y Us Panquis para o Rock Gaúcho?

Flávio: Historicamente poderia dizer que foi importante por ter Miranda e Jimi em momento único de composições e atitude. Miranda era a figura forte, escrachada e poderosa no vocal e teclados e o Jimi o poeta intelectual com sua guitarra envenenada. Como banda foi um estranho no ninho dentro da turma anos 80. Porque era punk pelas atitudes mas tocava qualquer coisa que vinha na cabeça. E não tinha receio de ser vaiada!

Jimi: Legado do Atahualpa? Ah, você tá de brincadeira né! A gente já virou até assunto de tese acadêmica! Hahahaha!!!

Castor: A liberdade de se expressar como quiser, sem restrições de nenhum tipo, e sempre na filosofia “faça você mesmo!” (Do It Yourself).

Pessoal, estamos chegando ao fim da entrevista. Quero dizer que foi uma honra entrevistar "a banda mais chinela do Rock Gaúcho"! Passo a palavra a vocês, caso queiram deixar algum recado aos seus fãs, e aos leitores do Blog...


Flávio: Grande abraço a todos. Gostei de que o Atahualpa foi importante para algumas pessoas e que ficará marcado na história. O Miranda ficaria orgulhoso de saber!!
Fiquem bem com bastante amor no coração!!!

Jimi: Muito noise, estourem seus tímpanos com prazer e alegria. E lembrem-se: nunca usem protetores de ouvidos!!!

Castor: A reunião da banda foi uma grata surpresa: alto astral, muita diversão, e o som rolou de maneira orgânica e forte, quase como se houvesse um espírito elevando as ideias e arranjos.
Tudo muito natural e tranquilo, rápido e eficiente. Ainda podemos produzir muito barulho, disso podem ter certeza! Cheers!!



segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

Entrevista Zhema Rodero

Hoje o Brasil Rocker tem a honra de trazer uma entrevista com Zhema Rodero guitarrista, compositor e fundador de um dos precursores do Metal extremo na América Latina, o Vulcano. Nessa entrevista, Zhema aborda sobre toda a carreira do Vulcano, desde seus primórdios até os dias atuais, em que estão prestes a embarcar em mais uma turnê europeia. Divirtam-se!


Zhema, é uma honra poder estar entrevistando um dos pioneiros do Metal extremo na América Latina. Obrigado por conceder essa entrevista!!

Zhema: Cara! Eu é quem agradeço esta oportunidade de levar um pouco das ideias por trás do VULCANO aos seus leitores.

O Vulcano foi sua primeira banda?

Zhema: Na verdade sim! Eu comecei com essa coisa de banda lá no final dos anos 70 e naquela época era muito difícil formar uma banda não somente pela falta de pessoas que tocavam algum instrumento como pela falta total de recursos. Porém não me preocupava com essa coisa de dar nome e então somente em 1980 eu coloquei o nome da banda que tinha naquela época de Astaroth que logo em seguida tornou-se VULCANO.

Em 1983, o Vulcano lança o primeiro registro da carreira, o compacto "Om Pushen Namah". Como foi para jovens headbangers lançar algo naquela época?


Zhema: Isso foi no final de 1982 e inicio de 1983. Naquela época o apogeu de uma banda de garagem era ter um disco gravado e eu sabia que era um objetivo muito distante, mas mesmo assim eu coloquei na minha mente que iria fazer aquilo. Eu era amigo, e ainda sou, do Oswaldo e Celso do Made in Brazil e então eu tinha eles como exemplo de profissionalismo. Um determinado dia conheci um rapaz que era cantor de música brega e esse cara me ensinou tudo que eu precisava saber para produzir e lançar um disco. Eu estava muito ansioso para isso e então nem esperei compor e ensaiar novas músicas, assim eu escolhi algumas que já me acompanhavam desde os anos 80. Não havia uma preocupação em mostrar um trabalho mais recente, mas sim lançar um disco. 


"Om Pushen Namah" é o único registro completo em português, após ele só seriam lançadas algumas faixas nessa idioma. Por que a banda optou pelo inglês?

Zhema: Eu sempre acreditei que o idioma mãe do Rock é o Inglês. A fonética da língua inglesa é totalmente apropriada para as divisões do Rock, Heavy Metal e até mesmo o Metal mais Extremo. Até deu certo com algumas músicas que aparecem no Live! De 1985 mas eu não ia conseguir manter o Português por muito tempo.

Inicialmente você tocava contrabaixo. O que fez você mudar para a guitarra?

Zhema: As mudanças que ocorriam na banda e como eu sou compositor, eu usava a guitarra para fazer isso. Então eu tinha que passar as músicas para os guitarristas e quando eles deixavam a banda eu tinha que fazer isso tudo novamente. Decidi que se eu permanecesse na guitarra seria melhor para todos. Foi assim que em 1987 o Zé Flavio saiu da banda e logo em seguida o Soto Jr. Também saiu, como eu era o único na nova banda que sabia tocar todas as músicas na guitarra, resolvi assumir de vez. No retorno do VULCANO após 14 anos hibernados e foi o Soto Jr. o responsável por essa volta, eu fiquei no contrabaixo novamente e acabou que eu gravei o baixo no “Tales from the Black Book”, mas logo em seguida voltei para a guitarra.


"Live" é o primeiro álbum completo do Vulcano, lançado em 1985. A proposta de lançar um álbum ao vivo antes de algo de estúdio é um tanto quanto ousada. De onde surgiu essa ideia?

Zhema: De uma necessidade de mostrar a Banda para o público de São Paulo. Na época a Capital era muito fechada e o VULCANO não conseguia fazer shows por lá, porém pelo interior do Estado tocávamos muito. Nós tínhamos um visual agressivo e de certa forma nossa música também era, nós tínhamos muita energia no palco e nossos shows eram para “headbangear”. Eu queria levar isso até a Capital e a única maneira que eu enxergava na época era gravar um álbum ao vivo. Hoje em dia não, seria um absurdo!

Comente sobre esse show que resultou no "Live".

Zhema: Fazer um show ao vivo em um ginásio de esportes era somente para corajosos e eu era! Pedi ajuda do Oswaldo Vecchione e ele me indicou uma pessoa que tinha um estúdio móvel Douglas Martins, conversei com o Wilton da Heavy Metal Rock de Americana e ele se juntou a esse projeto e aluguei um equipamento P.A e “backline” aqui de uma Empresa de Santos. Isso tudo custou meu Passat e eu fiquei a pé! Chamei uma banda de Araguari-MG chamada Reticências, hoje eles chamam-se “Tríade” para a abertura do show. Foi uma noite digna de Metal Nacional, o ginásio estava lotado.
Uma semana depois peguei a fita sem nenhuma mixagem do jeito que estava e fiz apenas um “overdub” na bateria da última música porque no show a caixa do baterista havia caído e ficamos um tempo sem batera, mas eu indico isso na ficha técnica do álbum. Com essa fita dei entrada na Fermata e pouco depois estávamos com o LP nas mãos.



Qual era a relação do Vulcano com as bandas de outros lugares, como São Paulo e ABC Paulista?

Zhema: Nós não tínhamos contato na época, conhecíamos os caras do Golpe de Estado e o Topperman do Korzus. Eu pessoalmente tinha mais contato com Made in Brazil e Patrulha do Espaço.

1986 é o ano de lançamento do Bloody Vengeance, primeiro álbum de estúdio (e segundo da carreira), que é um marco na história do Metal extremo mundial. Como foi a gravação desse disco?

Zhema: O “Bloody Vengeance” já estava quase todo pronto enquanto estávamos fazendo shows de divulgação do Live. O Live saiu em Outubro de 1985, eu acho que e em janeiro de 1986 nós já estávamos com o “Bloody Vengeance” pronto. Gravamos logo em seguida mas houve algum “plano econômico” no país que faltava tudo e no caso faltou papelão para fazer as capas, por isso demorou uns meses para lançamento. Aquele álbum foi gravado em um final de semana, entramos no estúdio em um sábado a tarde e saímos no domingo pela noite. Gravamos todos os instrumentos de cordas no mesmo amplificador meu Giannini 100B, um amplificador para contrabaixo. Os caras do Golpe de Estado estavam lá na noite do sábado e eu aproveitei as vozes deles para produzir “Voices from Hell”. Uma curiosidade foi que gravamos a música “Bloody Vengeance” somente com a luz de umas velas no canto da sala. O técnico de som ficou apavorado e não queria nos deixar fazer aquilo. Mas nós insistimos.

O que esse álbum simboliza na carreira do Vulcano?

Zhema: Este álbum na carreira do VULCANO preenche dois lados antagônicos, é o mais importante de nossa carreira e também é nosso estigma. E antes que me pergunte porque vou esclarecer. Ele é um estigma para o VULCANO porque a cada álbum que a Banda lança e já foram 12 depois dele, TODOS esperam um novo “Bloody Vengeance”, mas isso é impossível!!!!


Como era a cena underground em Santos, na década de 1980?

Zhema: Uma cena formada por fãs de Rock, Hard Rock e N.W.O.B.H.M. Haviam muitos eventos e bebedeiras. As Bandas Santista de Death Metal começaram a surgir após 1987. O Hardcore em Santos era, e sempre foi, muito forte.

Após o álbum "Ratrace", o Vulcano decide dar uma pausa na carreira. Qual o motivo dessa pausa?

Zhema: Desânimo! O metal que estava emergindo nos 90 não me interessava mais. Tinha muita coisa “fancy and fake” e depois piorou!

No final da década de 1990, a banda retorna com um novo vocalista, o Luiz Carlos Louzada. Por que o Angel não voltou logo no início essa reunião?

Zhema: Não foi bem assim. Aconteceram alguns shows de retorno do VULCANO em que o Angel não estava mais afins de cantar e como o Soto Jr. estava totalmente empolgado, chamamos o Luiz Carlos para fazer esses shows. Eu mesmo também não estava muito afins, e isso resultou em três músicas bônus para o lançamento do LIVE no formato CD. Ocorreram shows também com o Guilherme do IN HELL. Mas o retorno mesmo do VULCANO foi com o álbum “Tales from the Black Book” em 2003 e foi com o Angel.


Em 2001, a banda é pega de surpresa com a morte do guitarrista Soto Jr. De que forma essa morte impactou a banda? Pensaram em parar após essa perda?

Zhema: O Junior era uma cara muito empolgado no retorno do VULCANO e eu mesmo credito a ele esse fato. Ele era muito espirituoso e me ligava todos os dias para falar sobre isso. Começamos a ensaiar este retorno e fizemos alguns shows também, lembro-me que o último show com o Junior foi dia de finados aqui em Santos e um mês e pouco depois ele morreu!
Foi um choque enorme, afinal um cara tão espirituoso e jovem se foi, ele tinha 39 anos.
Dei uma parada de um ano na banda, mas depois resolvi homenageá-lo e escrevi o “Tales from the Black Book” e então sim, retornamos pra valer!

"Tales from the Black Book" é o primeiro álbum após essa reunião do Vulcano, agora com Angel nos vocais. Como foi gravar um álbum após tantos anos?

Zhema: Foi tranquilo, a tempo que não tenho muita coisa para falar dele, apenas que na época recebemos muitos elogios de críticos na Europa dizendo que aquele álbum foi o melhor álbum de retorno de uma Banda, que na época estavam pipocando bandas retornando.


A banda já tem diversas turnês europeias em seu histórico (inclusive, fará mais uma em novembro/dezembro) . Qual a diferença do público brasileiro para o europeu?

Zhema: Eu percebo muita diferença, e tentando resumir essa percepção; o público Europeu vai para os shows sejam eles na segunda-feira ou no sábado, não importa o dia da semana. Porém é importante dizer que lá os shows começam pontualmente no horário indicado, sempre por volta de 19h00 com a banda “headliner” entrando no máximo as 21h00, então 23h00 todos já se foram. Isso é um diferencial muito grande do motivo dos shows funcionarem de segunda a segunda. Os “headbangers” Europeus não ficam na porta do evento, eles entram assim que chegam, prestigiam todas as bandas, compram o “merchandising” tomam suas cervejas e aplaudem. Quando se empolgam com a banda, esperam um pouquinho para falar com os integrantes.
Aqui no Brasil, na minha e exclusiva opinião, existem dois públicos – uma para os shows do “mainstream” que eu chamo de “Metalheads” e outro para os shows do “Underground” e eu os chamo de “Headbangers”. O primeiro só aparece nos shows de bandas gringas e “mainstream” o segundo aparece tanto em um como no outro, mas a grana fica curta para esses e portanto conseguem ver menos shows. Não quero chamar polêmica, mas é uma verdade!

Como é a rotina em uma turnê europeia, que passa em várias cidades de diversos países?

Zhema: A rotina é descer do aeroporto e já ter uma van te esperando, com um bom planejamento já é possivel realizar o primeiro show no mesmo dia que chegamos. Chegamos no local, descarregamos a van, montamos o palco e fazemos o “check sound”. Sempre e em todos os lugares existe um ótimo “catering” com bebidas a vontade e mais tarde um “dinner”. Após o show e desmontagem do “backline” vamos ao hotel, e ali ficamos bebendo o restante das cervejas e “spirits” e no dia seguinte partimos para a próxima cidade.
Quando fazemos isso em um circuito mais próximo do “mainstream” então viajamos de “nightliner” e neste caso o “nightliner” passa a ser nossa própria casa e convivemos três bandas juntas o tempo todo. É muito melhor desta maneira, eu penso! E também pela possibilidade de interação por semanas com os músicos dessas bandas e isso nos tornam amigos após o término da turnê.


Após o álbum "Five Skulls and One Challice", Angel sai do Vulcano. O que ocasionou a sua saída?

Zhema: Já na gravação deste álbum ele já não estava presente, tanto que as linhas de vozes foram gravadas em Criciúma no Sul do país. Ele tinha outras prioridades naquela época e optou por sair. Não foi nada de desacordo ou coisa parecida. Como o Luiz já havia estado no VULCANO em oportunidades anteriores foi fácil recrutá-lo.

Dois anos após o "Five Skulls and One Choice", a banda já lança um novo álbum, o "Drowning in Blood", com Luiz Carlos Louzada nos vocais. O processo de composição mudou após a troca de vocalistas?

Zhema: O Luiz Carlos teve sua reestreia na primeira turnê Européia, e quando voltamos eu percebi que era necessário apresentá-lo aos fãs e então eu precisava escrever um álbum inédito, gravá-lo e lançá-lo em um tempo curto. Não haveria tempo para os demais “pegarem” as músicas, ensaiá-las etc. Assim eu fiz quase tudo sozinho, exceto as baterias e evidentemente, as vozes. Deste álbum em diante aprendi a ser mais rápido nas composições.


É notável que o Vulcano é uma banda que frequentemente lança material. O que faz vocês sempre estarem produzindo e trabalhando?

Zhema: A vontade de não permanecer na mesmice. Eu tenho na minha mente que se uma banda existe, não é para viver do passado e o passado para mim é dois anos. Dessa forma estou sempre procurando mostrar algo novo.

No ano de 2016, foi lançado o documentário "Os Portais do Inferno Se Abrem: A História do Vulcano". Como foi a produção desse documentário?

Zhema: Foi uma iniciativa do Vladimir Cruz e Rodney Assunção da “Just Design”. Certa noite me procuraram na sala de ensaio e me propuseram produzir um documentário. Eu pensei inicialmente que Eu teria que arcar financeiramente com o projeto e então eu disse que não teria nada para ajudá-los e eles me disseram: Não precisa você já tem a história.
A partir daí eu apenas forneci uma pequena lista de pessoas a serem entrevistadas e um material que tinha em minha garagem. Eles fizeram tudo sozinho. Eu não dei palpite em nada, pois era de meu interesse saber como outras pessoas enxergavam o VULCANO. Eu mesmo assisti a primeira vez o filme juntamente com os fãs na estreia no Cine Roxi.



Em 2017, foi lançado "XIV", décimo quarto trabalho da banda. Como esse álbum foi recebido pelos fãs e pela crítica?

Zhema: Como um excelente álbum! E é mesmo um álbum muito bom. Deixamos para trás aquela coisa de afinação em barítono que usamos nos dois álbuns anteriores e passamos a manter novamente a essência que o VULCANO tem que praticamente é simplicidade e honestidade musical. Fazemos o que gostamos em termos de composições, nada mais!

Quais as diferenças do underground na década de 1980 para o atual?

Zhema: Até o despertar dos anos 80 não havia qualquer separação entre o “mainstream” e o “UNDERGROUND” que estava nascendo junto também por conta de que não havia shows internacionais no Brasil e então nossos “heróis do Metal” eram as bandas domésticas e assim nasce junto o “UNDERGROUND”. Não havia separação entre um e outro porque eram os mesmos fãs. Atualmente como já abordei um pouco atrás, uma parte dos fãs do “mainstream” se separou e por outro lado  o “UNDERGROUND”  tornou-se algo muito forte deixando de ser o “patinho feio” e tornando-se uma Cultura, e cultura é algo forte, enraizado, provido de personalidade e honesto. Eu tenho mais orgulho de estar nessa cultura do que no efêmero “mainstream”.

Em maio de 2018, foi realizado um show no Sesc Pompéia, sendo este gravado e futuramente se tornará um DVD. Pode contar um pouco sobre esse DVD?

Zhema: Foi um show do VULCANO e VAZIO e que o “Núcleo Porta Preta” gravou profissionalmente. Isso foi no meio de 2018 e após isso eles fizeram a edição do DVD. Por algum motivo que ainda desconheço, esse projeto parou e por enquanto estou aguardando por notícias.



O Vulcano é uma das bandas mais longevas bandas brasileiras. O que motiva a banda a sempre se manter na ativa?

Zhema: A paixão pelas músicas que fazemos. Na frente da Banda eu sou o maior fã do estilo de música que o VULCANO faz e exatamente por isso é que continuo fazendo.

Como já citado, a banda está prestes a realizar mais uma turnê europeia. Como é a preparação para esse período?

Zhema: Desta vez nos juntamos com a Artery Global U.K e todo o planejamento esta nas mãos deles, eu tenho apenas a cidade que irá começar (Osberhausen - Alemanha) e a cidade que vai terminar um mês depois Barcelona - Espanha. Sei também que uma parte faremos novamente com o NIFELHEIM e vamos passar pela Scandinávia, Polônia e Reino Unido.


Quais os planos para o futuro?

Zhema: Atualmente trabalho duramente no novo álbum da Banda. Pretendo estar com a “master” de em mãos em Maio. E estamos, pela primeira vez sob convite de uma gravadora importante da Europa que aguarda a audição desse álbum.

Zhema, foi uma honra poder conversar com um dos "pais" do Metal extremo na América Latina! Sem dúvida, o Vulcano ficará marcado na história desse estilo musical. Passo a palavra para você, caso queira deixar algum recado aos leitores do Blog e fãs do Vulcano...

Zhema: Eu também agradeço a você por essa oportunidade de falar sobre o VULCANO e outros assuntos, também deixo aqui um agradecimento aos leitores do “blog” que teve a paciência de chegar na leitura até aqui.
Aos que ainda não conhecem a história da banda com profundidade gostaria de deixar o convite para irem até o Bandcamp do VULCANO e ouvirem nossos álbuns. Recomendo começar do último LIVE III para o primeiro lá nos idos de 80. Assim poderão entender melhor o que foi o inicio da carreira.
Um grande abraço a todos.