quarta-feira, 13 de fevereiro de 2019

Entrevista Paulão Thomaz

Existem músicos que passam toda a sua vida se dedicando a uma única banda, e outros, sempre tocando em diversas bandas. Entre esses do segundo caso, está Paulão Thomaz, baterista que há mais de 30 anos vem tocando o Rock 'n' Roll, tendo passado por muitas bandas. Nessa entrevista, Paulão fala sobre toda a sua carreira, desde o Centúrias até o Hot Devilles. Divirtam-se!


Paulão, é uma honra estar podendo entrevistando uma das maiores figuras do Rock 'n' Roll Nacional. Seja bem vindo e sinta-se à vontade!!

Paulão: Aê, obrigado Mateus... Esse apoio é fundamental!

Como a música entrou na sua vida?


Paulão: Lá no final do anos 60, com "Jovem Guarda", disco do Roberto Carlos com a música "Lobo Mau". 



Quais suas principais influências musicais?


Paulão: Deep Purple, Led Zeppelin, Black Sabbath, Rainbow, Patrulha do Espaço, Tutti Frutti, Made in Brazil.

O que fez optar por tocar bateria?


Paulão: Quando vi pela primeira vez o baterista Rolando Castello Junior no Patrulha do Espaço. Ali mudou minha vida!

De que forma se deu o início do Centúrias?

Paulão: Comecei a estudar bateria em 1977, e queria toca pesado, devido as minhas influências. Então encontrei uns amigos que tocavam um estilo meio "Sabbath" na banda Musifilia, a banda terminou ai fundamos o Centúrias.

De onde veio o nome "Centúrias"?


Paulão: Foi meu amigo Regis Tadeu quem deu o nome.



Em 1981, ocorre o primeiro show do Centúrias. Comente um pouco sobre esse show.


Paulão: Nessa época tínhamos um tecladista, o Guina Martins, oriundo do "Zero Hora" grande banda que contava com o baterista Charles Gavin (que mais tarde tocaria nos Titãs), nessa época tínhamos um som meio "Sabbath" e meio "Rainbow". E sempre autoral, nunca tocamos um cover.

Em 1984, a Baratos Afins lança a coletânea "SP Metal", que teve grande importância para consolidar o Heavy Metal brasileiro. Como o Centúrias foi "escalado" para participar dessa coletânea?


Paulão: O visionário Luiz Calanca (proprietário da Baratos Afins) estava acompanhando a cena na época com várias bandas nascendo, como Vírus, Salário Mínimo, Avenger, Abutre, Korzus. Enfim, um grande movimento se formava. Aí ele viu o Centúrias e nos convidou. Foi sensacional essa época!

"Duas Rodas" e "Portas Negras" até hoje são clássicos, e que a banda ainda toca nos shows. O que essas músicas representam para você e sua carreira?


Paulão: Poxa, resume uma época de ouro e onde tenho muito orgulho. Fiz a letra de "Duas Rodas" após assistir o filme "Mad Max". E "Portas Negras" é um som muito bem composto e uma puta letra, com uma introdução de baixo sensacional composta por Edu Camargo (o vocalista na época) e muito bem executada por Milani, o baixista na época.



Como era o cenário do Underground na década de 1980? As bandas eram muito unidas?


Paulão: Era maravilhoso! Todos amigos,havia muito respeito e admiração, e cada um no seu estilo e com muita união todos se ajudavam, já que equipamento naquele tempo era muito ruim e escasso.

Em 1986, o Centúrias lança "Última Noite", o primeiro registro do Centúrias como banda única. Como era para jovens Rockeiros estarem lançando o seu primeiro disco como banda única?


Paulão: Esse EP significa muito pra mim, foi uma fase onde a banda se encontrava unida e criativa, ficamos muito felizes com com o resultado desse EP. Tivemos muito apoio da mídia, tínhamos um grande vocalista com muita criatividade e um guitarrista virtuose com apenas 17 anos, foi uma fase maravilhosa.



Ainda nos anos 80, você teve uma breve passagem pela banda de Thrash Metal Korzus. Poderia nos falar sobre essa passagem?


Paulão: O Zema (baterista original do Korzus, e por sinal um dos melhores na época) estava desanimado, aí me convidaram. Apesar de não ser o meu estilo (sou mais Hard Heavy) foi uma passagem meórica divertida pakas. E até que me dei bem, pois na época o Korzus não era tão técnico e virtuoso como hoje em dia, era mais direto e na raça,fizemos 2 shows, sendo um deles histórico em Americana , com várias bandas importantes na época, como o iniciante sepultura. Mas não me sentia muito a vontade em tocar esse tipo de som, e logo após esse show em americana o Zema se animou e voltou. Tenho muito respeito e admiração por essa grande banda que está até hoje por aí, fazendo um puta som.

Em 1988, o Centúrias lança o álbum "Ninja", até hoje bastante lembrado pelos Headbangers brasileiro. Se sentiram mais a vontade para gravar esse disco, dada a experiência maior em estúdio?


Paulão: O "Ninja" foi uma guinada para o Heavy Metal, com o line up totalmente reformulado, pois só havia sobrado eu (hahaha). Juntei então aos "ex-harppias" (banda na qual era muito fã) Marcos Patriota e Ricardo Ravache, grandes músicos muito experientes, e com um jovem iniciante vocalista, o Nilton "Cachorrão" Zanelli. Ele tinha uma voz muito marcante, aguda e com potência se encaixou perfeitamente ao nosso som, e todos nós éramos muito fãs do Judas Priest, então essa guinada para o Heavy Metal foi natural.



A cada lançamento do Centúrias que se passava, era uma formação diferente. O que influenciava nessas repentinas mudanças de formação da banda?


Paulão: Bom, como disse, é natural que mude, afinal são outras pessoas com estilos e influências e modo de compor totalmente distintas.

Após o lançamento do "Ninja", a banda encerra as atividades. O que ocasionou o fim da banda, nessa época?


Paulão: Com a saída de Marcos Patriota (que foi para a Suécia) ficamos bem desanimados, principalmente eu já estava na quarta formação. Não é legal uma banda mudar tanto, e éramos muito unidos, havia uma química imensa, então não houve outra saída senão encerrar por ali.


Após o fim do Centúrias, você vai tocar na banda "Firebox", que lançou apenas o álbum "Out of Control", em 1992. Como foi o processo de composição nessa nova banda?

Paulão: Me encontrava sem banda, aí em um show do Motörhead no Projeto SP encontrei Michel Perrie, grande guitarrista e professor e estava montando uma banda muito boa com composições originais em inglês. Já que na época o Sepultura estava estourado então pensamos que esse era o caminho, então topei na hora o convite.

Como foi a distribuição do "Out of Control"?

Paulão: Foi total independente, tivemos apoio da mídia do Rock Pesado, mas foi tudo por nossa conta.

O que causou a sua saída do Firebox?

Paulão: Houve muitos desentendimentos com o Michel (líder da banda), aí já não havia mais clima em tocar com eles.


No final da década de 90, você toca na banda "Cheap Tequila". E com isso, você acabou tocando no álbum lançado em 1998. Comente sobre esse álbum.

Paulão: Estava bem desanimado com a cena do Metal... Não me identificava mais com o que estava por vir, que era o metal melódico e toda aquela coisa virtuosa demais para mim. Então fui tocar Rock 'n' Roll, que é minha paixão (gosto de tocar mais na raça e mais direto). Então o Cheap Tequila foi um respiro e uma fase totalmente nova e contava com grandes músicos também, mais influenciados pelo Blues e Rock.

De onde surgiu a ideia de regravar "Canalha", de Walter Franco?

Paulão: Foi do Ricardo Vignini (mentor e forte compositor da banda junto com Marcelo Bersotti). Eles tinham uma certa influência da "maldita MPB", Zé Ramalho, Walter Franco... E "Canalha" para mim é um Heavy Metal, com uma puta letra.



Você prefere tocar Rock em português ou inglês, ou não faz diferença para você?

Paulão: Durante muito tempo preferi em português, mas hoje em dia tanto faz, se a música é boa e soa com naturalidade.

Nos anos 2000, você monta a banda Baranga. Como se deu o início dessa banda?

Paulão: Em um encontro com o Deca e o Xande no Centro Cultural, em algum show do Patrulha. O Deca estava fora do Pitbulls on Crack, e aí conversando, comentamos em fazer um som juntos, com um estilo meio Status Quo e AC/DC. Aí combinamos um ensaio com o Xande e o Soneca e nasceu a "Baranga" já com um som autoral, "Show de Rock 'N Roll".


Porque o nome "Baranga"?

Paulão: No primeiro ensaio tínhamos que por um nome, aí veio "Caranga", mas já tinha banda com esse nome, aí o Xande zuando falou "Baranga". Iamos mudar mas acabou ficando. (hahaha)

Em 2003, a banda lança o primeiro álbum (homônimo). Qual foi a repercussão desse álbum na época?

Paulão: Foi legal, era uma época que o Rock ainda estava em alta, tocamos bastante.

Como é o processo de composição musical do Baranga?

Paulão: Basicamente é no ensaio. O Deca ou o Xande vem com riffs e desenvolvemos, Soneca ajuda e as letras são 90 % do Xande, e algumas do Soneca.



No ano de 2005, é lançado o "Whiskey do Diabo", um divisor de águas na história do Baranga. Quais suas considerações sobre esse álbum?

Paulão: Na minha opinião é o melhor! Grandes músicas, muito bem aceito, muito bem divulgado, enfim... É um clássico, e repito (é minha opinião).

"Pirata do Tietê" ganhou um videoclipe. Fale um pouco sobre como foi a gravação/produção desse que foi o primeiro clipe da banda.

Paulão: Já fiz vários vídeos, mas esse tenho um carinho especial. Grande música, que acho que devia ser o hino de São Paulo! Muito bem produzido pela "Gasolina Filmes". Levamos das 5 da manhã até as 20 horas para gravá-lo, mas valeu muito a pena.



Vocês já chegaram a tocar no festival "Eje del Mar", no Chile. Como foi para vocês tocar fora do Brasil?

Paulão: Foi maravilhoso! Tocamos com bandas sensacionais, e lá o profissionalismo e o respeito são levados a sério, e o público é insano.

Há alguma diferença do público Rocker chileno para o brasileiro?

Paulão: Sim, são mais fiéis e "doidos", Rockeiros pakas (hahaha)

Em 2009, vocês abriram o show do lendário Motörhead. O que esse show representou para você? Afinal, o Motörhead é uma de suas bandas favoritas.

Paulão: Foi um sonho realizado, não só para mim, mas para a banda toda! Estar naquele palco foi umas das melhores sensações que já tive tocando.


Relate sobre o encontro de vocês com o Phill Campbell (guitarrista do Motörhead) após o show.

Paulão: Foi em Florianópolis. Abrimos para o Motörhead lá, foi melhor que aqui (SP), público mais receptivo e vendemos muito merchandising. Estávamos no camarim após show, felizes e "bebemorando", quando entra pela porta o Phil Campbell com um balde de cerveja nos parabenizando pelo show, e ainda elogiando o Xande pela introdução que ele faz na "Whiskey do Diabo" usando o slide. Isso é impagável, um dos melhores momentos da minha carreira!!

No ano de 2012, é formada a banda Kamboja. De onde surgiu a ideia de montar mais essa banda?

Paulão: Era um antigo projeto meu com o Fabio Makarrão, e resolvemos botar o Kamboja na estrada. Estava já MEIO desmotivado em continuar com a Baranga naquele momento, aÍ vi seria uma boa fazer o Kamboja, já que sempre curti Hard Rock e Heavy Metal no estilo "anos 80", e o Kamboja se encaixava nesse meu desejo em fazer esse som.


Entre 2013 e 2018, o Kamboja lançou um EP e dois álbuns, o "Viúva Negra" e "Até o Freio Estourar". Comente um pouco sobre esses lançamentos.

Paulão: O EP foi composto muito rápido, pois estávamos entusiasmados com o som. Nesse EP contamos com: André Cursi (guitarra) e Frank Gasparotto (baixo), e o Makarrão além de letrista é Vídeo Maker, fizemos bons e hilários clipes desse EP.
Já o "Víuva Negra" começou bem, mas durante as gravações o André "pulou fora do barco", foi tudo muito conturbado, mas fizemos os maiores hits da banda nesse CD, no meio das gravações nos recrutamos o excelente guitarrista Edu Moita. Seu estilo veio somar e muito, com seu estilo mais "Bluseiro" e com ótima técnica de slide. Ficamos muito animados com a entrada do Edu, e logo compusemos o "Até o Freio Estourar". Foi um grande trampo envolvido em um ótimo astral, gravado e produzido por Rogério Wecko, nos estúdios "Dual Noise"... Foi tão bem recebido pela galera que o Luiz Calanca (proprietário da Baratos Afins), resolveu lançá-lo, foi um grande momento da banda.


Em 2014, você participa do "Mano Sinistra", banda que tem o violonista Ricardo Vignini, que já tocou com você no Cheap Tequila. O que te levou a criar outra banda com Ricardo?

Paulão: É um projeto do Ricardo Vignini mais voltado para o Rock, então ele me chamou para gravar, porque me encaixava no estilo das músicas que ele queria lançar. Foi uma experiência muito legal, e que contava também com o excelente músico e amigo Luki no baixo.


O Kamboja lançou vários videoclipes ao decorrer de 5 anos. Você acha que as plataformas digitais ajudam ou prejudicam em algo na cena do Rock Nacional?

Paulão: No caso do Kamboja, foi a nossa maior arma de marketing. Ficamos conhecidos muito rapidamente devido aos clipes, o MK (Fábio Makarrão) tem um grande talento em ideias e direção, para nós foi fundamental essa ferramenta. Acho muito importante hoje em dia o clipe, imagem é fundamental nas redes sociais.

Chegou a um certo momento durante sua carreira que você optou por seguir tocando apenas com o Kamboja, deixando o Baranga com outro baterista. Quais as principais dificuldades de tocar em duas bandas?

Paulão: O Kamboja começou a virar e tocar bastante, e naquele momento estava muito entusiasmado com o nosso trampo, aí resolvi sair do Baranga, porque iria conflitar datas e trampos no futuro.



Em 2018, você saiu do Kamboja, e logo em seguida retornou ao Baranga. Essa saída do Kamboja foi proposital? Caso não, comente sobre como você retornou ao Baranga.

Paulão: Infelizmente, por diversos conflitos internos o Kamboja se desfez. Estava bem abalado com o fim da banda naquele momento, aí estava em um show do patrulha no Sesc Belenzinho, na saída fui tomar umas com o Deca e o Xande do Baranga e eles comentaram que o Alemão (batera na época), estava passando por problemas de saúde e não poderia continuar na banda, e fui convidado a voltar. Topei na hora, foi um sinal! hahaha.

No final de 2018, você ingressou na banda Red Neck Brotherhood, que agora denomina-se Hot Devilles. Qual a sonoridade da banda?

Paulão: É um som que curto muito, estilo Southern Rock, com muito Blues, pesadão, e ainda é um trio (baixo batera e guitarra). Sempre quis tocar em trio, curto muito esse formato, e é fácil e ao mesmo tempo desafiador de trabalhar, curto muito essa banda e com os parceiros Mauro Catani (baixo) e Eddie Brandoff (guitarra e voz).

Já tem algum material pronto para gravar com o Hot Devilles?

Paulão: Sim, temos 9 sons autorais e pretendemos fazer mais um e logo gravar.


Quais seus planos para o futuro?

Paulão: Meus planos são os mesmos desde 1980, hahaha. Tocar , gravar e fazer shows por aí, essa é a vida do rockeiro. Abraço, e espero vê-los nos shows. Fiquem ligados!

Paulão, saiba que foi uma honra te entrevistá-lo! Sua obra é de extrema qualidade, e de suma importância para o Rock 'n' Roll nacional. Passo a palavra para você, caso queira deixar algum recado aos seus fãs e aos leitores do Blog.

Paulão: Aê Mateus, muito obrigado pela oportunidade! Fiz um breve resumo da minha carreira, quase 40 anos na estrada é um livro... Mas espero que gostem, foi breve e sincero. Abraço a todos, longa vida ao Rock 'N' Roll! E vão aos shows das bandas, sem público não há banda!



12 comentários:

  1. aeeee obrigado pelo espaçoe apoio..abraço

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Eu que agradeço, Paulão! Você é um verdadeiro patrimônio do Rock Nacional, sucesso sempre!!

      Excluir
  2. Mateus Parabens mais uma vez! Paulão Thomaz é Patrimonio do Rock Brasileiro, um dos caras mais ativistas que já conheci!!!... Um dos poucos e raros que faz aquilo que prega!!! Eu sou fã!!!!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Concordo totalmente, Kadu! Além de ser um verdadeiro ativista de nosso Rock, é um exímio músico, e um cara muito gente boa!

      Excluir
  3. Grande Paulão. Ele e um dos culpados por eu ser baterista.

    ResponderExcluir
  4. Mateus entrevistando Paulão!!! Dois queridos e competentes... Achei sensacional!!! ��������������������

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Grande Ravache, obrigado pelo apoio de sempre, irmão! Estamos na luta, em prol do nosso Rock 'n' Roll!!

      Excluir
  5. Paulão é o cara do Rock Pesado , legado do Paulão Marreta

    ResponderExcluir
  6. Show de bola! ótimas histórias do grande Paulão1 Parabéns a ele por tantos anos de qualidade por trás da batera e a vc, Mateus, pela ótima entrevista.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Obrigado, grindstressor!! A contribuição do Paulão para o Rock nacional é imensurável, uma das grandes figuras desse meio musical!

      Excluir