Hoje temos um convidado de honra, esse que começaremos com o quadro de entrevistas, o mestre Roberto Lazzarini. Ele toca na lendária banda de Rock Progressivo Brasileira Terreno Baldio, entre outros projetos que participou ao longo de sua carreira.
Roberto Lazzarini, seja muito bem vindo ao Brasil Rocker. Como você sabe, sou um grande fã, e é uma grande honra para mim fazer essa entrevista. Sinta-se à vontade!
Roberto Lazzarini: É uma honra para nós do Terreno Baldio, nós que nos sentimos honrados de participar desse novo blog, o Brasil Rocker. Desejamos tudo de bom, sucesso com o novo blog, a você Mateus pessoalmente, que dê tudo muito certo.
Vamos lá. Como a música entrou na sua vida?
Roberto Lazzarini: Desde que eu era moleque, criança. Eu ficava na frente da vitrola ouvindo todos os discos que apareciam, meu pai cantava músicas italianas, tangos, e eu de ouvindo atento desde moleque a isso. Aí comecei a estudar piano com meus irmãos mais velhos (sou o caçula de 4 irmãos homens), pois eles me davam aula,e a partir daí fui estudando erudito. Quando cheguei nos 14 anos, um de meus irmãos resolveu me custear um curso de jazz e de música popular. Foi aí que o bicho pegou, não saía mais do piano e comecei a tirar tudo que todo mundo fazia. Comecei a estudar aos 6 e comecei minha vida profissional aos 14 e a música ficou na minha vida até hoje, não vivo sem ela.
Quais os principais músicos, artistas ou bandas que te influenciaram no começo de carreira?
Roberto Lazzarini: Fui muito influenciado pelo Jimi Hendrix, Deep Purple, Genesis, Gentle Giant, Yes, King Crimson, Cream, Johnny Winter, Mahavishnu Orchestra também... Foram essas minhas influências. Nunca tive influência de Beatles nem de Rolling Stones. Desde o começo da minha carreira, gostava de progressivo. Como eu tinha feito piano erudito, eu via que o progressivo aplicava e misturava música erudita com rock.
O que te fez optar pelos teclados? Porque você escolheu esse instrumento?
Roberto Lazzarini: Na realidade, eu não optei pelo teclado. A gente tinha um piano em casa, e a minha mãe me pôs para aprender piano. Foi uma coisa natural, comecei minha vida já assim.
Quais as primeiras bandas que você tocou (antes do Terreno)?
Roberto Lazzarini: Foram os Islanders, que era banda de baile. Toquei no Made in Brazil também, toquei com um cantor chamado Pete Dunaway.
O Terreno Baldio começou em 1974. Como começou a banda?
Roberto Lazzarini: A gente tinha o Islanders, esta onde conheci o Kurk e o Jô. O Pete Dunaway, na época alguns cantavam em inglês, fingindo que era gringo, pois aqui no Brasil só vendia música gringa. Ele me contratou para fazer um show, para ser maestro dele, e lá tinha os outros integrantes que fariam parte do Terreno. O Mozart tinha uma banda chamada Fush. Nos juntamos e começamos a fazer música autoral. A partir daí nasceu o Terreno, e a gente ensaiava 3 vezes por semana e tal...
Quais foram as principais dificuldades da banda no começo de carreira?
Roberto Lazzarini: Eu não sei exatamente quais as dificuldades, pois desde o primeiro show que a gente fez já foi um puta de um barato, a gente já adquiriu uma legião de fãs nesse show. Não tínhamos dificuldade para fazer show, era muito mais fácil do que agora, por exemplo. Todo lugar que a gente se apresentou nos demos bem.
Tem alguma história engraçada da banda nos anos 70?
Roberto Lazzarini: Tem uma história bem engraçada. Quando a gente gravou o primeiro disco, fizemos um relativo sucesso (com às devidas proporções de sucesso do Progressivo no Brasil). Começamos a fazer bastantes shows, e naquela época não tinha P.A. (Power Amplification), que hoje em dia têm em todos os shows. Naquela época, precisávamos levar ou alugar o P.A., e a gente resolveu mandar fazer umas caixas nossas enormes. O resultado foi o seguinte: as caixas ficaram ótimas, só que ficaram grandes demais. No primeiro show que faríamos com elas, as caixas não passaram pela porta!!
Ao longo desses mais de 40 anos de carreira, qual o show mais marcante?
Roberto Lazzarini: Um show que me marcou muito foi o primeiro Festival de Águas Claras. A gente iria entrar para tocar às duas da manhã, e atrasou tudo por causa da chuva. Entramos cerca de quatro e quatro e meia da manhã, e parou de chover só no nosso show, e amanheceu um dia lindo, então tocarmos com o dia amanhecendo na nossa frente foi uma maravilha. Tivemos outros bons também, como um festival de Rock Progressivo no Rio de Janeiro há um tempo atrás foi bem marcante. Outros marcantes foram as edições do festival Psicodália em que tocamos
O primeiro disco disco da banda, o autointitulado Terreno Baldio, saiu em 1976. Como foi a repercussão desse disco na época?
Roberto Lazzarini: O primeiro disco já saiu tendo sido esperado, pois a gente estava desde 1974 fazendo shows. Gravamos em 1976, mas a galera já estava esperando, então foi de uma excelente aceitação, alavancou o Terreno para fazer mais shows, e na época não era qualquer banda que gravava. Vendeu lá o que eles queriam, que foi de 3000 discos a primeira prensagem, e só não gravamos o segundo disco nessa gravadora (Pirata Records) porque ela acabou.
Vendo o encarte do CD, li q vocês gravaram demos para um possível segundo álbum. Vi também uma foto de um setlist da banda da época, com músicas como Mudar a Cabeça e Travessia, essas nunca gravadas em estúdio. Que fim essas demos e músicas levaram?
Roberto Lazzarini: Eu não sei que fim essas demos levaram. Inclusive tinha uma demo que a gente fez na RCA Victor, que gravamos Aquelôo, que não entrou no disco. Mudar a Cabeça, eu não me lembro dessa música, e Travessia era a do Milton Nascimento que a gente fez um arranjo na época. Mas eu não sei onde foi parar essas coisas.
Em 1977, vocês lançaram o Além das Lendas Brasileiras. Comente um pouco de como começou o projeto desse disco e a repercussão dele na época.
Roberto Lazzarini: Nosso produtor musical (Cesare Benvenutti) tinha sido chamado para ser diretor artístico da gravadora Continental. Como ele já tinha gravado o primeiro com a gente, ele nos chamou para ir pra Continental. Mas antes mesmo dele chamar, a gente já estava elaborando o show das Lendas Brasileiras. Esse é outro tema que me acompanha desde pequeno. Meu pai era médico, e ele ganhou de um laboratório um livro de páginas soltas, que eram sobre as lendas brasileiras. O Terreno já estava com vontade de misturar coisas brasileiras com o rock, e o Lendas Brasileiras foi uma ideia minha, e a gente começou a fazer pesquisa sobre sons e etc, e começamos a compor o Lendas Brasileiras com o primeiro disco "na praça". Aí quando o Cesare foi para a Continental, a gente já estava com a história do disco praticamente pronta e delineada, só faltava acertar uns detalhes. Você pode notar no Lendas Brasileiras, uma música chamada Iara, que tem uma frase de flauta. Essa frase é um canto de um pássaro da Amazônia que a gente transcreveu para a flauta. A gente procurou se situar em um clima de mata mesmo, inclusive pesquisas em locais que falavam que aparecia tal lenda, e a gente ia falar com os caras para saber. O Lendas foi um trabalho de pesquisa muito grande, tanto musical quanto em relação as letras.
Esse álbum é inédito em CD oficial. Pensam em lançá-lo?
Roberto Lazzarini: Sim, esse álbum só tem em vinil. A gente pensa em lançar sim, só não sabemos quando, não temos uma data definida. Enquanto isso, a gente vai procurando trabalhar em coisas novas, e estou com ideia de regravar as músicas que não estão em discos, como Aquelôo, Velho Espelho.
Por quais motivos o Terreno Baldio se separou em 1978?
Roberto Lazzarini: Chegou uma hora que o Jô Ascenção (baixista) resolveu parar com música e foi trabalhar de engenheiro, e não tava dando mais para ele continuar tocando. Então ele saiu, e entrou o Rodolfo Braga, que era cunhado do Mozart. O Rodolfo gravou o Além das Lendas Brasileiras. Houve aluns problemas internos da banda, o que acabou ocasionando o término da banda.
Entre 1978 e 1994, o Terreno parou, mas você não. Conte um pouco dos projetos que você participou nesse meio tempo.
Roberto Lazzarini: Aí eu comecei a acompanhar cantores. Fui maestro do Fábio Jr., toquei com um grupo argentino chamado Tremendo, na mesma época do Menudo. Depois toquei com a Zezé Motta, Ronnie Von, Sá e Guarabyra, Secos e Molhados...
E em 1994, o Terreno Baldio volta a ativa, para regravar o 1° álbum em inglês. Como foi voltar com a banda após tantos anos?
Roberto Lazzarini: Foi um excelente reencontro. Nós resolvemos voltar com um show em uma casa chamada Britania, e logo depois no Centro Cultural São Paulo. Foi um prazer, uma gostosura. Eu nunca me desliguei do Kurk, estava sempre com ele fazendo algum trabalho, só o Mozart que evaporou um pouco.
Por volta dos anos 2000, você tocou no Trio Mocotó. Como foi essa experiência?
Roberto Lazzarini: Foi uma experiência diferente, porque é Samba Rock. Nós gravamos um disco que foi lançado na Europa. Fizemos umas 3 turnês pela Europa, cerca de 40 a 60 shows cada. Foi interessante porque o Trio Mocotó é basicamente umas canções swingadas, e depois lançava-se solos jazzísticos para mim no piano e para o Luiz do Monte, guitarrista filho do Heraldo do Monte.
Em 2008, você lançou seu álbum solo, o Libera o Bicho. Fale sobre esse disco, que inclusive tem homenagens à alguns de seus familiares
Roberto Lazzarini: Esse disco eu fiz mais para o lado da música brasileira, e foi a chance que eu tive de reunir uma gama de vários e vários músicos que apareciam no meu estúdio. Então nesse disco tem músicos como Bocato, Yamandu Costa, Derico Sciotti. É uma variação de músicos que eu tive o prazer de concentrar nesse disco. Tem música em homenagem à minha mãe, chamada Paulistana, uma valsa com quarteto de cordas e tal, tem uma música para meu filho, chamada P'ro Bruno.
Qual das formações do Terreno na sua opinião, ficou mais consistente, mais coesa?
Roberto Lazzarini: A formação mais coesa, e para mim a melhor formação do Terreno Baldio em todos esses anos é essa formação de instrumentistas: Cassio Poletto (violino), Mozart Mello (guitarra), eu (teclados), Edson Ghilardi (bateria), Geraldinho Vieira (contrabaixo). Essa formação tocou com Kurk, e agora com Roger. Essa formação é a mais erudita e com os melhores instrumentistas que já toquei.
Com o passar dos anos, as tecnologias foram evoluindo muito, inclusive na música. Você é adepto em relação as novas tecnologias musicais (equipamento, instrumentos, produção), ou é um músico "das antigas"?
Roberto Lazzarini: Sou completamente partidário as novas tecnologias. Só não sou partidário em relação a elas quando alguém "engana" usando elas. Que não toca direito, "engabela" usando tecnologia. Isso acontece muito hoje em dia, os caras estudam menos. A tecnologia faz com que cara pensa que tá tocando para caramba, mas não está.
Em 2017, infelizmente ocorreu a morte do vocalista João Kurk. Como vocês reagiram ao receber essa notícia, e o que passou na sua cabeça naquele momento sobre o futuro da banda?
Roberto Lazzarini: Nós estávamos indo fazer um show na rua Teodoro Sampaio, praticamente ao lado da casa do Kurk. Nesse show, ele não poderia ir pois ia fazer com a outra banda dele. A gente ia tocar 3 ou 4 músicas para homenagear o Bolivia e a Catia, pois o Bolivia estava doente, precisando de uma força, e várias bandas foram fazer esse show para arrecadar fundos. E quando estávamos indo para lá, falei com o filho do Kurk, e ele me confirmou que o Kurk havia morrido. Perguntei ao filho do Kurk: o que que a gente faz? e ele falou: o meu pai gostaria que vocês fizessem o show. Então tocamos, e a Pássaro Azul em homenagem ao Kurk, pois ele virou nosso pássaro que voou. Aí foi muito triste, tocamos chorando.
Sem dúvida, uma perda irreparável para o Rock Nacional... E como vocês decidiram que Roger Troyjo seria o novo vocalista da banda?
Roberto Lazzarini: O Roger foi o substituto de Kurk nesse show do Bolivia...E como ele cantou muito bem, ele ficou na banda. Foi o Cassio que sugeriu. Inclusive, o Kurk produziu o primeiro disco da Nave, a antiga banda do Roger.
Já nesse ano, vocês tocaram no Totem Prog, em São Paulo. Como foi pra vocês esse 1° show com "sangue novo" na banda?
Roberto Lazzarini: O show foi ótimo, o Roger cantou muito bem. A gente sente falta do Kurk, as pessoas são substituíveis, mas não é a mesma coisa. O Roger canta muito bem, tem a voz mais aguda, é bem jovem. Foi muito bom. O Kurk vai fazer falta no coração, na banda, e em toda minha vida, vai fazer falta sempre. Mas a banda está ótima com o Roger.
Também nesse festival, tocaram várias bandas novas do cenário progressivo nacional. Qual delas mais te impressionou?
Roberto Lazzarini: Caravela Escarlate, o Kaoll e o Arcpelago.
Ainda no Totem, vocês tocaram uma música inédita, chamada Indignação. Como é pra vocês voltar a compor e tocar música nova?
Roberto Lazzarini: Para nós é necessário tocar música nova. Já estamos em fase final a Indignação, já terminamos todos os instrumentos, falta apenas voz e mixagem dessa nova música. E para nós está sendo super gratificante, e devemos continuar fazendo mais coisas.
E qual o futuro da banda?
Roberto Lazzarini: É Deus quem dirá o futuro da banda. Nós vamos continuar fazendo música, pretendo gravar mais um CD com 8 faixas, tudo no tempo de cada um, cada um tem que trabalhar no seu canto, se virar, mas o Terreno não vai parar, é isso.
Bem Lazzarini, estamos chegando ao fim da entrevista. Eu, como um grande fã do Terreno Baldio, desejo muito sucesso pra vocês, e q você continue sendo essa pessoa generosa e simpática. Caso queira divulgar novidades da banda, estarei aqui para te atender. Passo a palavra à tii, caso queira deixar algum recado aos fãs do Terreno, leitores do Blog, etc...
Roberto Lazzarini: Eu quer lhe agradecer também pela entrevista, que seu novo blog seja um sucesso, e queria dizer para os fãs do Terreno que o Terreno está vivo! Vivo e atuante, e que continuamos a fazer música, em breve vocês terão notícias de coisas novas. Um abraço!!!
Bela entrevista. Parabéns!!!
ResponderExcluirValeu brother, é noise!!
ExcluirParabéns pela maravilhosa entrevista!
ResponderExcluirValeu brother! Fazer essa entrevista foi demais, Lazzarini é muito gente boa!
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