sexta-feira, 20 de julho de 2018

Entrevista Ricardo Ravache

O entrevistado é um dos maiores contrabaixistas brasileiros, o mestre Ricardo Ravache. Ele que já tocou em bandas lendárias como Centúrias e Harppia, e nos tempos atuais está com as bandas Cozinha dos Infernos e Antimídia concedeu uma ótima entrevista ao Brasil Rocker. 


 Ravache, é uma honra para mim ter você como entrevistado aqui no Brasil Rocker! Seja bem vindo e sinta-se à vontade!

Ricardo Ravache: A honra é toda minha, Mateus. É uma satisfação poder conversar com você e todos os leitores do Brasil Rocker!

Como a música entrou na sua vida?

Ricardo Ravache: Sou descendente de italianos por parte de mãe. Meu bisavô era músico da banda da Polícia Militar de São Paulo (na época chamada Força Pública) e seus filhos homens também tocavam algum instrumento. Um deles, meu padrinho de nascimento era clarinetista profissional e morávamos juntos, ou seja, desde que nasci tive a música como parte fundamental da vida.
A título de registro, o Marcos Patriota, guitarrista do Harppia e Centúrias nos anos 80, é meu primo, tendo essa mesma origem.

Quais são as bandas e artistas que mais te influenciaram?

Ricardo Ravache: Nasci no início dos anos 60. Ainda não se conhecia o Metal da forma que existe hoje. Assim, peguei a fase dos anos 70 em que o Rock Progressivo estava no auge e ainda mais, desde a primeira idade eu ouvia música clássica... Então você pode colocar nessa lista os grandes nomes, como Gentle Giant, Yes, Genesis, King Crimson, Kansas etc...Também bandas mais pesadas, do que se chamava de “Rock Pauleira”, como Led Zeppelin, Black Sabbath, por exemplo e outras como Grand Funk Railroad, Foghat. Tem tanta coisa... Minha maior influência é setentista, mesmo.

O que te fez optar pelo seu instrumento atual de trabalho, o contrabaixo?

Ricardo Ravache: Foi por acaso. Quando éramos muito jovens e queríamos ser músicos, o Patriota comprou uma guitarra e eu, um baixo. Simples assim. Kkkkkkkkk

Por volta de 1979/1980, você tocou na banda Aeroplano. Qual era a sonoridade dessa banda? Ela deixou algum registro?

Ricardo Ravache: Voltando à amizade com o primo Patriota, em 1979 chegou um momento em que nós precisávamos seriamente de um baterista. Por um acaso encontrei o guitarrista Lipo (Filippo Baldassarini que posteriormente gravou o álbum Sete com o Harppia) numa estação do Metrô. Ele me entregou um flyer de um show dessa banda (Aeroplano) e eu perguntei se ele conheceria um baterista para indicar. Fui no show e ele me apresentou o Tibério Correa (Harppia).
Ficamos amigos e logo em seguida, quando houve uma reformulação da banda, entramos nós dois para compor a cozinha.
Quanto à sonoridade, era Rock’n’Roll tradicional, puro. Foi gravado um compacto simples (vinil pequeno com duas músicas pra quem não conheceu...).


Quando acaba, você vai tocar no Via Láctea, que depois se tornou Harppia. Você já era um músico adepto ao Heavy Metal, ou teve que se adaptar a sonoridade da banda?

Ricardo Ravache: Na verdade eu não entrei na época do Via Láctea. Esse nome existiu bem no início e era a banda fundada por Jack Santiago e Hélcio Aguirra mas logo o nome foi alterado para Harppia, afinal o Jack sempre foi um estudioso do misticismo e grande conhecedor de assuntos mitológicos.
A princípio o baixista era o Patriota, que estudava junto com o baterista à época, o Zé Luis (banda Nihilo) até que aconteceu um episódio interessante. O baixo que o Patriota usava tinha dois braços. Baixo e guitarra. Num momento uma das cordas da guitarra do Hélcio quebrou, então o Patriota cobriu o Hélcio usando o braço de guitarra. A partir daí eles decidiram que deveriam ter duas guitarras na banda e eu entrei como baixista.
Quanto a ser adepto do Heavy Metal, era um gênero que nos arrebatou desde o início. Daí a tocar esse gênero foi muito rápido, tranquilo...
Um pouco mais tarde tive a oportunidade de trazer o Tibério para a banda e estava fechada a formação que gravou A Ferro e Fogo.

Em 1985, o Harppia grava e lança o A Ferro e Fogo. Como foi a repercussão do disco na época?

Ricardo Ravache: A Baratos Afins, na figura de Luis Calanca havia lançado a coletânea SP Metal I e II e até estávamos cogitados para fazer parte mas ele acabou decidindo nos lançar como EP. A repercussão foi extremamente positiva pois a música Salém – A Cidade das Bruxas já era bastante conhecida e cultuada na cena e foi o carro chefe do álbum. Outro diferencial foi a qualidade da gravação, que ao contrário da simplicidade do SP Metal, usamos algumas técnicas no estúdio que trouxeram um resultado muito melhor, sem contar a capa, uma verdadeira obra de arte do Chico Guerreiro, um artista plástico renomado.

"Salém" até hoje é considerada por muitos o grande hino do Heavy Metal nacional. O que essa música representa para você?

Ricardo Ravache: Para mim essa música é o carro-chefe do Harppia. Foi composta pelo Jack Santiago com base em fatos reais históricos, porém com uma maestria na composição que só ele, o Jack poderia proporcionar.
Foi também uma oportunidade que tive para incluir um solo de baixo, o que sempre sonhava em fazer.
Em agosto próximo participarei de uma das tradicionais feiras do bairro da Pompéia, aqui em SP e terei oportunidade de tocá-la junto com o Tibério na bateria. Vai ser muito gratificante.


Em 1986, você sai do Harppia, e logo em seguida entra no Centúrias, que também já tinha gravado material. Como foi a sua transição para o Centúrias?

Ricardo Ravache: Essa transição foi fruto de mudanças simultâneas nas formações anteriores das duas bandas. Como éramos todos amigos e nos encontrávamos no icônico Rainbow Bar (bar no bairro do Jabaquara, em São Paulo onde a maioria das bandas de Metal se apresentava), foi natural fecharmos essa formação.

E em 1988, é lançado o álbum Ninja, outro álbum marcante para a discografia do Heavy Metal nacional. Como foi a repercussão desse disco? Ele aumentou a proporção da banda no cenário da época?

Ricardo Ravache: Esse álbum foi fruto de um projeto anterior ao Centúrias onde Jack Santiago compôs diversas letras. Nós aproveitamos essas músicas e compusemos outras para completar o álbum.
Ele definiu uma mudança no estilo da banda, que em seu álbum anterior (Última Noite), com outra formação, produziu uma sonoridade mais voltada ao Hard Rock.
Quanto à repercussão, não consigo te dizer com certeza. Já vi enquetes em redes sociais onde a relação da preferência do público pelos dois álbuns fica em 50% para cada.



Logo depois do Ninja, o Centúrias encerra as atividades. Quais os motivos que ocasionaram o fim da banda?

Ricardo Ravache: Foram desentendimentos pessoais, como pode acontecer e acontece com qualquer banda, em qualquer estilo, em qualquer tempo e em qualquer lugar.



E nos anos 90, você ainda participa de uma banda chamada "Linha 10". Qual era a sonoridade que essa banda tocava? Chegaram a deixar algum registro?

Ricardo Ravache: Ah, sim. Uma grata lembrança. O amigo e excepcional guitarrista, professor, produtor... Joe Moghrabi lecionava no Conservatório Souza Lima e convidou outros professores para montar essa banda, que teve vida curta e apenas umas duas apresentações. Tocávamos standards de Jazz e infelizmente não há registro gravado.

Nos anos 90, e no começo dos anos 2000, você para com a música. O que você fez durante todo esse tempo?

Ricardo Ravache: Sim. A Música “me deixou em paz” por um período. Kkkkkkkkkk. Mas ainda assim tive uma atividade esporádica com amigos músicos. Não chegamos a ter algo sério. Apenas boas lembranças.



O Harppia voltou em 2002. O que ocasionou e como foi essa volta, após tantos anos?

Ricardo Ravache: Um belo dia no início de 2002 eu vejo uma notícia de um show na Led Slay (antiga casa de Rock de SP) com uma formação nova do Harppia. Liguei para o Jack Santiago para desejar boa sorte e fui ao show. Logo em seguida o Jack me chama para compor essa nova formação e foi uma época de intensa atividade. Aí é um longo capitulo à parte, pois nesse período abrimos shows do Grave Digger e do UDO.

E alguns anos depois, o Centúrias também volta a ativa. O Paulão fez alguns shows e teve que sair, pois estava tocando com o Baranga. Ele pediu para vocês prosseguirem, ou era um desejo de todos continuar com o Centúrias?

Ricardo Ravache: Sim, houveram reuniões esporádicas do Centúrias com o Paulão e o Tadeu Dias, um excepcional guitarrista.
O que ocasionou a volta foi um evento de Jams do Programa Stay Heavy e da revista Roadie Crew. Eu era convidado para participar dessas Jams. Numa das edições eu chamei o Cachorrão para comparecer e curtir o evento, paguei o ingresso e uns drinks para ele e houve uma homenagem ao Centurias. Ele foi chamado para subir ao palco, subimos também o Paulão e o Tadeu e a música era Metal Comando. Ao final, o amigo querido e Editor Chefe da Roadie Crew, o Ricardo Batalha, um dos maiores fomentadores do Metal Nacional, nos intimou a reativar a banda. Como você comentou, o Paulão estava comprometido com o Baranga e o Tadeu também tinha outros compromissos. Assim a banda voltou com o Julio Principe na bateria e o Roger Vilaplana na guitarra.

Em 2013, o Centúrias lançou o single Rompendo o Silêncio. Vocês já tinham essas composições, ou foi algo que veio após a vota da banda?

Ricardo Ravache: Elas foram compostas para “esquentar” a volta da banda. Eu compus a “Ruptura Necessária” e o Julio, “Sobreviver”.



Ainda em 2013, ocorre o Super Peso Brasil, estival que reuniu algumas das maiores bandas do Heavy Metal nacional, incluindo o Centúrias. Como foi participar desse evento, que foi uma das maiores reuniões do Metal nacional?

Ricardo Ravache: Foi uma ideia do Ricardo Batalha que tomou corpo através do André Bighinzoli, baixista do Metalmorphose, banda carioca pioneira do Metal Nacional. A experiência foi fantástica, envolvendo a participação do público através de uma campanha de crowdfunding, numa casa de alta qualidade, completamente lotada e bandas pioneiras do estilo, trazendo convidados especiais. Nem preciso dizer que foi uma experiência inesquecível, certo?

O Heavy Metal nacional foi homenageado no documentário "Brasil Heavy Metal". Como é saber da tamanha contribuição que você deu a esse estilo musical no Brasil?

Ricardo Ravache: É muito emocionante ter reconhecimento de uma atividade feita com muita paixão, com muita honestidade de propósito, com muito suor e investimento pessoal e além disso descobrir que uma multidão de pessoas, de todas as idades, origens, credos, têm a mesma paixão.
Essa ideia de registrar parte da história da cena teve a colaboração de uma multidão de músicos e fãs, que encaminharam toneladas de material sobre bandas, músicos, casas de show etc. Foi um trabalho muito difícil de se concluir e felizmente esteve nas mãos competentes do Ricardo “Micka” Michaelis, guitarrista do Santuário, também da nossa época através de sua produtora, a Idea House.

Atualmente, você está participando do Cozinha dos Infernos, que como o próprio nome diz, é a "cozinha" (contrabaixo e bateria) fazendo um som. Seria esse um projeto em que você se sente mais à vontade?

Ricardo Ravache: Trata-se de uma dupla, baixo/batera e esse projeto começou como uma ideia meio vaga e desconexa, pois numa única tarde de um sábado do ano passado, sete das músicas “baixaram” no baixo (kkkkk) e eu consegui gravá-las para que não se perdessem. Mostrei para o Julio, baterista do Centurias e ele topou me ajudar nesse início. Atualmente o batera é o Eduardo “Migdiablo” Miguel, o que deu maior peso às músicas. Logo logo estaremos servindo as finas iguarias que essa cozinha produz. Kkkkkkkk.
Sem compromisso com estilo, a intenção é mostrar que a cozinha de uma banda tem uma importância maior do que se imagina, podendo andar sozinha, com suas próprias pernas.
Quem quiser conhecer um pouco desse trabalho, tem um canal no YouTube e está disponível no Spotify e no Deezer, com o nome de “Cozinha dos Infernos (clique AQUI ara acessar no YouTube)” e compõem a “Demo dos Infernos”.



Outra banda que você está tocando atualmente, é a banda de Hardcore Antimídia. Você já havia tocado esse estilo no passado? É um som diferente do que você fazia no Centúrias e Harppia. O que está achando de tocar nessa banda?

Ricardo Ravache: Essa é uma banda motivada pela amizade. Entrei por convite do baterista Luiz Corrêa, que atualmente mora na Austrália. Na guitarra temos o Maurício Amaral, do Anthares, banda pioneira de Metal e o Felipe Galvão nos vocais. A banda já tem um nome consolidado na cena.
Estamos sempre em contato e quando o Luiz vem para o Brasil, sempre temos uma atividade, como gravação, show...
Agora, quanto ao estilo, para mim é uma experiência muito gratificante, pois exige versatilidade e técnica que eu não tinha ou costumava usar. Estou curtindo muito.


O que podemos esperar de Ricardo Ravache para o futuro?

Ricardo Ravache: Nem eu sei o que esperar... Mas uma coisa é certa. Não vou parar enquanto tiver saúde e disposição, porque sinto que agora tenho muito a oferecer em matéria de música, com a experiência que coletei durante a vida e pelo tanto que ainda tenho a aprender. Tenho outros projetos engatilhados que faço questão de comentar aqui quando estiverem melhor definidos.
Só pra você fazer ideia, Mateus, acabei de produzir a trilha sonora de um filme, o que foi uma experiência muito difícil, porém gratificante. Deve ter dado certo, pois recebi a encomenda para mais um longa metragem e quatro curtas. Tô lascado... Kkkkkkkkkkkkk.

Bem Ravache, a entrevista está chegando ao fim... Saiba que foi uma honra entrevistar você, e saiba q eu (Mateus) e o Blog estará aqui para o que precisar! Passo a palavra para você, caso queira passar alguns recado aos seus fãs e leitores do Blog...

Ricardo Ravache: Bom, agradeço demais a oportunidade que você me deu, Mateus, para expor um apanhado da minha trajetória e me disponibilizo para sempre colaborar com o Blog.
Uma notícia que me deixou chateado é que o Centurias esteve parado por um período e fui informado recentemente que está retornando sem mim. Mas não tem problema. Sempre estarei em atividade de outra forma...
Como costumo dizer e digo agora para todos os leitores e a equipe do Brasil Rocker: para as garotas, beijos angelicais e para os rapazes, abraços fraternais.
Valeeeeuuuuu!!!






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