Hoje o Brasil Rocker traz uma entrevista com o lendário China Lee, vocalista da banda Salário Mínimo, e ex-vocalista das bandas Extravaganza e Naja. Ele fala sobre toda sua carreira, e novidades que estão por vir.
China, seja bem vindo ao Brasil Rocker. É um prazer para mim fazer essa entrevista com você, que considero um dos melhores vocalistas do Hard n' Heavy nacional. Seja bem vido e sinta-se à vontade!!!
China Lee: Fala Mateus, e aí galera do Brasil Rocker, é um prazer estar falando com vocês, estamos aqui!
Como a música entrou na sua vida?
China Lee: No início dos anos 70, passava alguns filmes dos Beatles e dos Monkees na televisão. E aí, quando eu tinha 9, 10 anos meu pai me deu a coleção dos Beatles, e aí comecei a gostar demais de música, foi meu pontapé inicial para gostar de Rock.
Quais os artistas e bandas que mais te influenciaram?
China Lee: Vou fazer uma escala, por datas: Elvis Presley, The Beatles, Black Sabbath, Iron Maiden, Judas Priest, Helloween e Mötley Crüe. Essas foram minhas maiores influências.
Como surgiu o nome da banda Salário Mínimo?
O primeiro registro fonográfico do Salário Mínimo está presente na coletânea SP Metal I, com as músicas "Cabeça Metal" e "Delírio Estelar". Como foi para a banda entrar em estúdio pela primeira vez para gravar?
China Lee: Foi uma experiência única! Garotos entrando em estúdio pela primeira vez, muita ansiedade... Eram 8 canais, a gente não sabia nem o que fazer com 8 canais. Diante de um momento e de um homem que era poderoso, o dono da Baratos Afins (Luiz Calanca) que produziu o disco. Foi um momento inesquecível. Parece propaganda de sutiã: o primeiro sutiã você nunca esquece! (risos). Foi fantástico, porque para nós era novidade, nunca tínhamos entrado em um estúdio de verdade. Foi um aprendizado absurdo, em um estúdio que era considerado um dos melhores de São Paulo, o Vice Versa, com um grande produtor que se tornou o Zé "Heavy" Luiz, e com um dos caras mais famosos do Underground, que era o Luiz Calanca. Aprendemos muito, e éramos garotos inexperientes. Deu aquele "frio na barriga", mas graças a Deus deu tudo certo, a gente tinha ensaiado bastante, e as bandas todas amigas também. Foi um momento inesquecível!!
O primeiro álbum da banda, o Beijo Fatal (um dos clássicos álbuns de Heavy Metal cantados em português). Como foi a repercussão desse disco na época, chegaram a fazer muitos shows por conta desse álbum?
China Lee: É, o Beijo Fatal realmente foi o grande "boom" do Salário, em 1987. Fizemos 40 programas de televisão em 30 dias, viajamos pelo Brasil inteiro, principalmente Sul e Sudeste, realmente foi muito forte... Muita rádio e muita entrevista, foi um momento espetacular. As vendas do disco surpreenderam todo mundo, a gente até acredita que fomos Disco de Ouro. Na época, Disco de Ouro eram 100.000 discos vendidos, e a gravadora falou que a gente bateu 79.000, mas acreditamos que vendemos mais de 100.000 cópias
Tem uma música cover no "Beijo Fatal", a "Rosa de Hiroshima", dos Secos e Molhados. De quem veio a ideia de regravá-la?
China Lee: Na verdade, estávamos sendo produzidos pela Baratos Afins. Como a gente estava fazendo muito sucesso, a RCA foi até a Baratos Afins, e comprou o Beijo Fatal da gravadora original. Aí fomos para a RCA, e a única exigência dessa gravadora é que eles queria duas músicas: uma para trabalho, e outra um pouco mais comercial. A gente tinha na manga Noite de Rock, e eu sempre quis gravar Rosa de Hiroshima, e acertei e cheio quando a escolhi, pois foi a música que abriu espaço para a gente tocar e rádio e televisão no Brasil inteiro.
Tem uma lenda da banda, que vi outro dia: a banda nos anos 80 recebia cerca de 2000 cartas de fãs por mês, é verdade?
China Lee: Sim, é verdade... Algumas vezes batia 3 mil!!
O que ocasionou o fim da banda, na década de 80?
China Lee: Entre 1989 e o início de 1990, eu fui convidado pelo Ricardo "Micka" Michaelis (diretor do Brasil Heavy Metal e guitarrista do Santuário) para cobrir o vocalista da banda Naja, e fiquei entre as duas bandas. O Naja era de Santos, e nessa época, o Salário já estava enfraquecendo e relação ao sucesso que tivemos, a gente estava desanimado com algumas coisas, mas ainda sim fazíamos cerca de 12 shows por mês. Até que eu e o Micka montamos o Extravaganza, e aí avisei aos integrantes do Salário que eu ia sair da banda, eu tentei até chamar outro vocalista, mas ele decidiram "o Salário sem o China Lee não é Salário" e acabaram encerrando as atividades, e eu fui tocar com o Extravaganza.
No início da década de 90, você foi ser vocalista de uma banda chamada Naja. Essa banda chegou a deixar algum registro, como demo-tape ou alguma gravação ao vivo?
China Lee: O Naja tem material gravado sim, e em breve nós vamos estar liberando alguma coisa, e estamos mexendo nesse produto.
Logo após o Naja, você formou junto com o Micka (Santuário) a banda Extravaganza, que chegaram a gravar o álbum "O Prazer é Seu!", em 1993. Como foi o processo de unir a banda, gravar e fazer shows?
China Lee: No início foi fácil, porque praticamente a turma do Naja virou o Extravaganza, foi bem fácil em relação a formação do grupo. Depois, para a gravação do disco teve algumas mudanças. Saiu o tecladista e baixista, e entraram. Mas a base era praticamente a do Naja, então foi bem fácil.
"O Prazer é Seu!" só saiu em LP. Pensa em lançá-lo em CD?
China Lee: Sim!!! Já estamos negociando...
Existe alguma possibilidade do Extravaganza retornar para fazer ao menos alguns shows?
China Lee: Sim!!! Os shows fazem parte dessa negociação que falei.
Em 2002, o Salário Mínimo retorna a ativa. Como foi para você retornar com a banda, após ela ficar tantos anos parada?
China Lee: Existia uma casa em São Paulo chamada Led Slay, aí eles convidaram o Salário, só que a banda não existia mais. Quando acabou o Extravaganza, montei um projeto chamado China Lee e os Extravagantes. Aí eu tava com uma garotada ensaiando quando toca o telefone e paramos o ensaio, e era o dono da Led Slay perguntando se o Salário voltaria, e que iria tocar Viper, Korzus, Golpe de Estado, Harppia (que também tava voltando), tudo no mesmo dia. Aí a molecada que tava tocando comigo falou: Vamo! A gente toca tudo do Salário! Quando decidimos voltar, tinha mil e poucas pessoas no show cantando tudo! A partir dali, o Salário voltou e de lá não paramos mais, esse foi o retorno, só que com outros membros.
E em 2009, 22 anos após o lançamento do primeiro álbum, é lançado o álbum "Simplesmente Rock". Como foi o processo de gravação desse álbum, os integrantes novos trouxeram um "novo sangue" à banda? E os fãs, como reagiram a esse álbum?
China Lee: O processo desse disco foi de uma qualidade absurda, muitas e muitas horas de ensaio, é um repertório muito difícil de cantar e tocar, com uma pegada diferente, mais Hard Rock. Claro que sem dúvida nenhuma os músicos trouxeram uma energia diferente, uma modernidade e uma qualidade fora do comum. Sem contar o produtor (Henrique Baboom), um cara muito considerado no meio atualmente também ajudou muito na produção desse disco, e é um disco que eu gosto demais, acho ele o melhor trabalho da minha carreira, na minha opinião.
Um dos grandes destaques do "Simplesmente Rock" é a faixa "Anjo". Ela foi composta para homenagear alguém, ou foi algo que veio da sua mente?
China Lee: "Anjo" realmente foi a música que se destacou nesse disco, ela entrou no repertório do show e não saiu mais, até o cara mais radical acaba se emocionando e vai as lágrimas. Essa música ficou para quem perdeu alguém, como uma mãe, namorada, pai... Virou a música daquele momento em que as pessoas se emocionam, pode se dizer até espírita. Essa música é minha e do Micka, e foi feita para uma noiva minha que faleceu grávida, e sempre é muito difícil interpretá-la.
2013 foi o ano em que ocorreu o Super Peso Brasil. Como foi para o Salário Mínimo tocar no mesmo palco de outras lendas do Metal Nacional, como Centúrias e Stress?
China Lee: Acredito que tenha sido a maior celebração do Metal cantado em português, sem dúvida nenhuma. Lotado, quase 2000 pessoas. Das bandas que a gente dividiu o palco, só o Taurus que a gente ainda não tinha tocado junto antes. Foi fantástico, só quem esteve presente para saber, nunca aquelas bandas tinham tocado juntas no mesmo palco, foi um feito histórico, que acabou gerando um DVD e CD de muito sucesso. Foi inesquecível, até hoje as pessoas pede para repetir a dose, quem sabe em um futuro próximo. Uma das noites mais lindas que já participei, fantástica.
Em 2014, são lançadas 4 músicas, incluindo dentre elas a "Fatos Reais" (que ganhou até lyric video) e um cover de Raul Seixas, Sociedade Alternativa. Qual a opinião de você sobre as plataformas digitais de música?
China Lee: "Fatos Reais" hoje em dia também é outro sucesso da gente, que também entrou no repertório dos shows e não saiu mais, porque é muito difícil a gente montar um repertório. As pessoas querem as duas do SP Metal e o Beijo Fatal inteiro, então quando a gente consegue emplacar uma música que o público gosta, para a gente é muito interessante. "Sociedade Alternativa" era para estar no Simplesmente Rock, só que ficamos esperando a liberação da esposa do Raul Seixas e do Paulo Coelho, e acabou que a gente colocou nas mídias sociais. Mídias sociais hoje em dia representa uma boa fatia do mercado. Por exemplo, o Salário e outras bandas nacionais antigas (principalmente as nacionais do Underground) estão vivas porque existe o Facebook, as plataformas digitais e tal... Inclusive a gente vai disponibilizar quase todo o material que a gente tem, em Spotify e todos os outros. Hoje em dia não tem jeito, apesar de que muita gente do nosso segmento ainda prefere o físico, do CD e vinil, mas a parte "internética" não tem jeito...
Dentre essas mais de 3 décadas de Rock, qual foi o show mais marcante de sua carreira?
China Lee: Todo show tem sua magia, sua beleza... Foram tantos anos e tantas histórias bacanas! Todo show é marcante e importante para a gente. Mas vou citar alguns: o show de abertura do Scorpions, abertura do Uriah Heep, abertura do Twisted Sister, abertura do U.D.O., o Super Peso, o de 30 anos do SP Metal no Sesc Belenzinho, o Metal Quatro no Paleiras em 1986, os 3 shows que toquei na Portuguesa, show no Ibirapuera (SP) para 16.000 pessoas... São tantos anos, histórias e shows... Todos os shows foram importantes, tendo 30 ou 10.000 pessoas. A cada cidade nova que a gente conhece, a cada fã novo que a gente tem o oportunidade de abraçar e cumprimentar, tudo é muito importante para a gente.
O que podemos esperar do Salário Mínimo para o futuro?
China Lee: Para o futuro, nós estamos tentando lançar um CD novo, mas não tá fácil, a gente tá muito exigente e muito chato. Mas daqui a uma duas semanas terá novidade, e eu vou mandar para vocês. É o que posso prometer para vocês.
Bem China, estamos chegando ao fim da entrevista... Saiba que foi uma honra te entrevistar, sou um fã de seu trabalho musical, e quando quiser divulgar novidades da banda pode avisar, pois o Blog está aqui para isso... Passo a palavra para você, caso queira dar algum recado aos seus fãs e aos leitores do Blog.
China Lee: Gostaria de agradecer a você Mateus pelas perguntas, já fui entrevistado muitas e muitas vezes, fiquei impressionado com o conteúdo e inteligência das perguntas, você foi a fundo pesquisar o assunto, e isso é o mais importante... Obrigado a todo mundo do Blog Brasil Rocker, e tamos aí, só tenho a agradecer. Um abraço a todos!!!
Parabéns pela entrevista Mateus e ao entrevistado, grande China Lee, que é um dos maiores ícones do rock nacional, além de um cara gente finíssima! Abraços!
ResponderExcluirValeu o apoio, Cherokee! Realmente, o China foi super gente fina ao fazermos a entrevista!! Com certeza teremos mais posts dele no Blog!
ExcluirChina é gigante do nosso sofrido Metal Nacional! Grande entrevista! Parabéns ao blgo Barsil Rocker e, é claro ao grande China e demais colegas do fantástico Salário!
ResponderExcluirIsso aí, uma verdadeira lenda do Metal Nacional! Parabéns a ele por manter essa chama acesa!
ExcluirBoa Matheus está no caminho certo!Como é bom ver jovens interessados na cultura rock do Brasil!
ResponderExcluirObrigado, kolla!! É, nunca é cedo demais para se ter bom gosto, rs...
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